Os interiores das casas também formam a identidade de uma cidade - vem aí a Open House
O mote para evento deste ano é a “Rebeldia do Invisível” que promete, através da observação do interior dos vários espaços arquitectónicos, questionar a identidade de Lisboa.
Como é que se reconhece uma determinada cidade? Pelas pessoas, os prédios, a luz, as cores, os jardins e uma infinidade de outros elementos. Mas há uma parte invisível, por trás das fachadas, que também nos permite reconhecer Lisboa, por exemplo. Às vezes a identificação é imediata, outras vezes é surpreendente. Para questionar essa identidade urbana, a edição deste ano do Open House Lisboa tem como tema a “Rebeldia do Invisível”, que se foca na observação dos interiores. Organizado pela Trienal de Arquitectura e comissariada pela empresa Aurora Arquitectos, de Sofia Couto e Sérgio Antunes, esta 11ª edição decorre também em Almada.
Nesta edição, que irá decorrer durante o fim-de-semana de 14 e 15 de Maio, voltarão a abrir-se portas de espaços públicos e privados, contemporâneos e históricos, com o intuito de aproximar as pessoas da arte e das cidades. Através de visitas guiadas, percursos urbanos (acompanhados por especialistas) e de um passeio sonoro, pensado por Daniel Blaufuks, será possível compreender mais e melhor o papel da arquitectura enquanto molde da identidade dos espaços. O Open House Lisboa 2022 tem ainda programado visitas sensoriais para pessoas cegas ou com baixa visão, bem como actividades para os mais novos.
Aos jornalistas, José Mateus, presidente da Trienal, explicou que o Open House 2022 surge como um “programa democrático” e de descoberta, funcionando como um meio para quebrar “barreiras” na descoberta da cidade. Já a presidente da EGEAC, empresa responsável pela gestão de espaços culturais de Lisboa, Joana Gomes Cardoso, afirmou que este é um evento “para todos”, onde será possível estar “em contacto com especialistas, mesmo não se sendo um”. Joana Gomes Cardoso enaltece ainda a promoção do “património edificado bem como a sua história, de modo a aproximar os cidadãos da cidade”, considerando este evento como um “serviço público”.
Durante a visita ao Hotel Verride (Palácio de Santa Catarina), ao Palácio Ratton (Tribunal Constitucional) e ao Edifício na Rua das Adelas - três espaços incluídos na edição deste ano - Sérgio Antunes, da Aurora Arquitectos explicou ao PÚBLICO que a nova edição do Open House deste ano pretende “questionar a identidade de Lisboa”. “A pergunta é: a Lisboa que vemos nas fachadas, quando andamos pela cidade - é essa ainda a identidade de Lisboa?”, acrescentando que, para obter a reposta será necessário “comparar os interiores, que é aquilo que nós mostramos” nesta edição, com as fachadas da cidade. Assim, o objectivo principal para a edição deste ano passa por entrar no “íntimo” da arquitectura lisboeta de modo a descobrir o “invisível” e, através de uma análise e interpretação pessoal, compreender qual a actual identidade da cidade lisboeta.
Os edifícios visitados durante a apresentação da 11ª edição do Open House Lisboa surgem como exemplos desses espaços invisíveis que podem ser descobertos. E onde se descobrem diferentes identidades dos interiores de Lisboa: aquela que reconhecemos, outra onde já houve uma intervenção mas que manteve elementos que identificamos e a que é totalmente moderna
O Palácio Ratton, quando comparado com os três espaços visitados, mantém-se intacto desde a sua construção. Idealizado inicialmente para ser a residência da família Ratton, alberga desde 1982 o Tribunal Constitucional. Esteticamente apresenta uma fachada regular de três pisos, e tem como pontos de interesse a sala de sessões, a biblioteca do palácio, o jardim e ainda a sala de actos, onde se encontra uma peça de tapeçaria produzida por Eduardo Batarda, como peça de fundo. O seu interior esconde vários adornos e estuques, retratos a óleo e histórias que marcam as várias fases ocupacionais deste espaço. Quem aqui entra não tem dúvidas que este é um espaço com típicos traços portugueses.
Já no caso do Hotel Verride (Palácio de Santa Catarina), reabilitado em 2017, por Teresa Nunes da Ponte, e adaptado a hotel de luxo, mantém-se o edifício oitocentista com todos os seus elementos característicos - a decoração em estuque, madeira e azulejo - mas é notória a recente intervenção, que o trouxe até ao século XXI.
Por sua vez, o Edifício da Rua das Adelas surge como um espaço mais irreverente do ponto de vista arquitectónico. Este é um edifício composto por quatro pisos, com uma arquitectura moderna, que se destaca dos prédios vizinhos. Destaca-se uma fachada contemporânea e ainda um revestimento exterior com azulejos que apresentam relevo na diagonal. No interior, o aproveitamento do espaço é maximizado, deixando os espaços livres.
Lisboa e Almada encontram-se lado a lado, numa iniciativa que contará nesta nova edição com 69 espaços disponíveis para visita do público, sendo 40 novidades em relação a anos anteriores.
Alguns espaços exigem marcação prévia, que pode ser feita a partir de 9 de Maio no site do Open House.
Texto editado por Ana Fernandes