Fed acelera subida das taxas de juro nos EUA

Alerta máximo contra a inflação nos EUA. Taxas de juro sobem meio ponto percentual e Fed anuncia ainda que irá começar a reduzir o seu balanço a partir do início de Junho.

Foto
Jerome Powell, presidente da Reserva Federal dos EUA EPA/MICHAEL REYNOLDS

A Reserva Federal norte-americana acelerou o ritmo de retirada dos estímulos monetários que tinha lançado à economia durante a pandemia e, num reforço dos esforços que está a fazer para combater a inflação, subiu a sua principal taxa de juro de referência em meio ponto percentual.

No final da reunião de dois dias do comité que decide a política monetária nos Estados Unidos, os responsáveis da Fed emitiram esta quarta-feira um comunicado dando conta de duas decisões que, sendo já esperadas pelos mercados, vêm confirmar que Jerome Powell e os seus pares estão neste momento apenas preocupados com uma coisa: a subida da taxa de inflação.

Apesar de a economia norte-americana ter registado, no primeiro trimestre deste ano uma contracção, a Fed decidiu colocar a sua taxa de juro de curto prazo, que serve de referência para os custos de financiamento de toda a economia, no intervalo entre 0,75% e 1%.

É uma subida de 0,5 pontos percentuais que é a maior dos últimos 22 anos, o que mostra bem a forma como os responsáveis da instituição estão decididos a mudar rapidamente a política monetária em vigor e que foi, durante os últimos anos, fortemente expansionista.

Em segundo lugar, a Fed anunciou também que, a partir de 1 de Junho, irá começar a reduzir a dimensão do seu balanço, primeiro em 47,5 mil milhões de dólares (cerca de 45,13 mil milhões de euros) ao mês e, a partir de Setembro, em 95 mil milhões de dólares ao mês. Isto significa que, depois de vários anos a comprar activos (principalmente títulos de dívida pública norte-americana) e de recentemente ter acabado com as compras líquidas, a Fed vai mesmo começar a desembaraçar-se dos activos que tem, reduzindo não só o seu balanço (que chegou aos 9 biliões de dólares) como reduzindo também a liquidez existente nos mercados.

Este tipo de medidas - subida das taxas de juro e redução do balanço - destinam-se a aumentar os custos de financiamento nos EUA e a estimular a poupança, conduzindo assim a um arrefecimento do consumo e do investimento que se espera acabe por travar também a escalada dos preços.

Tanto nas taxas de juro como na gestão do seu balanço, a Fed está alguns passos à frente do BCE. Na zona euro, o banco central prepara-se para, durante o terceiro trimestre deste ano, acabar com as compras líquidas de activos, o que significa que não irá ainda começar a reduzir o seu balanço, irá apenas mantê-lo estável. E, só a seguir, poderá começar a subir as suas taxas de juro de referência.

Esta retirada mais rápida dos estímulos por parte da autoridade monetária norte-americana tem como uma das explicações a diferença do valor da inflação nos dois blocos económicos. Enquanto na zona euro, a taxa de inflação homóloga foi de 7,5% em Abril, nos EUA o mesmo indicador já estava, em Março, nos 8,5%.

No comunicado em que anunciou as suas decisões, a Fed diz que “a inflação se mantém elevada” e garantiu que “se mantém muito atenta” à sua evolução. No que diz respeito ao crescimento económico, que nos primeiros três meses do ano registou um valor negativo, é destacado que, ainda assim, “o consumo das famílias e o investimento das empresas se mantêm fortes” e que “os ganhos de emprego foram robustos”.

"Não vai ser agradável"

Na conferência de imprensa realizada logo a seguir, o presidente da Fed, Jerome Powell, tentou passar a ideia de que será possível combater a inflação sem colocar em causa os actuais níveis muito baixos de desemprego que actualmente se registam. Powell reconheceu que, sendo a inflação um fenómeno “desagradável” para muitas famílias, “trazer a inflação para baixo também não vai ser agradável”.

Ainda assim, assinalou que a tarefa da Fed, nesta fase, tem mesmo de ser a de “evitar que a inflação se torne permanente” e defendeu que “existe uma boa hipótese de se trazer a inflação para baixo sem gerar subidas significativas do desemprego”.

A forma como os salários estão a subir neste momento nos EUA é uma das fontes de preocupação da Fed e seu presidente deixou claro que irá ser necessário travar esta tendência. Ainda assim, Jerome Powell acredita que isso não significa necessariamente que se tenha de aumentar o desemprego para que os salários deixem de crescer.

“Existe um caminho através do qual se modera a procura no mercado laboral sem aumentar o desemprego”, disse, embora assinalando que esta não será uma tarefa fácil.

Para já, o máximo responsável da Fed colocou de lado uma acção ainda mais forte, dizendo que uma subida de 0,75 pontos não está, neste momento, a ser discutida.

De qualquer forma, as subidas de taxas são para continuar, deixou claro. “Sabemos que temos de mover as taxas de juro rapidamente para níveis normais e, se for necessário, ir ainda mais além”, disse.

Sugerir correcção
Ler 6 comentários