Chimpanzés órfãos encontram santuário num centro para a vida selvagem

Situado no Leste da República Democrática do Congo, o santuário recebeu em 2021 o maior número de chimpanzés. Caça, tráfico e a perda de habitat são os maiores riscos para estes animais, alertam conservacionistas.

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Chimpanzés no Centro de Reabilitação de Primatas de Lwiro, na República Democrática do Congo Djaffar Al Katanty/Reuters

Assim que se abriu a jaula de madeira, um jovem chimpanzé agarrou-se ao pescoço do seu salvador num abraço breve, antes de correr para ir brincar no novo recinto onde foi libertado.

O chimpanzé foi retirado de um dono ilegal pelos funcionários da agência de conservação da natureza da República Democrática do Congo. O primata foi trazido para o Centro de Reabilitação de Primatas de Lwiro, numa viagem de mais de 600 quilómetros, feita de avião, barco e carro.

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O veterinário Luis Flore avalia um jovem chimanzé que acaba de chegar ao centro Djaffar Al Katanty/Reuters

O jovem juntou-se a um grupo de 111 chimpanzés que já estavam naquele centro, um santuário para primatas órfãos que abriu há 20 anos numa aldeia que fica 40 quilómetros a norte de Bukavu, uma capital de província na região Leste da República Democrática do Congo.

A maioria dos grandes símios de África distribui-se entre a República Democrática do Congo e o vizinho Congo, mas as populações da maioria das espécies estão a diminuir devido a factores como a perda da floresta, a caça e o tráfico, de acordo com o último relatório da Parceria para a Sobrevivência dos Grandes Símios (GRASP, sigla em inglês).

Os caçadores procuram os primatas jovens para vender aos jardins zoológicos ou como animais de estimação. Muitas vezes, para se conseguir caçar os jovens chimpanzés, toda a sua família é morta, denunciam os conservacionistas.

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O jovem primata que chegou numa pequena jaula de madeira é avaliado pelo veterinário Luis Flore e por Itsiaso Valez Del Burgo, primatólogo do centro Djaffar Al Katanty/Reuters

“É terrível porque 2021 foi o pior ano da história do nosso centro, tivemos a chegada de 15 indivíduos. E é necessário pensar que, por cada chimpanzé que chega ao nosso santuário, há dez ou mais chimpanzés que morrem na floresta”, disse Itsaso Velez del Burgo, director do centro. “A situação é séria. Se não agimos para proteger a floresta, rapidamente ela irá tornar-se vazia.”

Um caçador pode vender um chimpanzé vivo por 50 a 100 dólares (48 a 96 euros), enquanto um intermediário pode fazer a revenda desse chimpanzé por um valor acrescentado de até 400%, segundo um relatório sobre comércio ilegal de símios, publicado pelas Nações Unidas.

No Leste da República Democrática do Congo, a violência das milícias tem tornado mais difícil a libertação destes animais de volta à natureza, que é o objectivo último do santuário, adianta Claude-Sylvestre Libaku, gestor do centro.

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Sheriff, o chimpanzé macho dominante do centro Djaffar Al Katanty/Reuters

“Já existem grupos (de símios) que estão prontos para serem reintegrados, mas a presença de grupos armados na floresta impede-nos”, explicou Libaku.

Apesar da violência das milícias assolar a região Leste da República Democrática do Congo há décadas, nos últimos anos tem havido uma ressurgência de alguns grupos armados, o que levou o Governo a declarar a lei marcial em partes daquela região.

Mesmo que não haja provas de que o comércio ilegal de grandes símios está ligado a grupos armados, a sua presença na floresta constitui uma ameaça, adiantou ainda Johannes Refisch, coordenador do GRASP, uma organização liderada pelas Nações Unidas.

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Kisangani, um chimpanzé que chegou ao centro em 2017 Djaffar Al Katanty/Reuters

“Tenho de concordar que (os símios) estão mais em risco quando há mais armas à sua volta”, disse o coordenador. “Há mais risco devido à caça de carne selvagem, e até mesmo em áreas onde os grandes símios não são um alvo, os caçadores poderão deparar-se com um gorila e matar o animal porque se sentem ameaçados.”

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