PSOE une-se à direita e extrema-direita para vetar comissão de inquérito ao Catalangate

Para os independentistas catalães, a acção do partido do Governo aumenta as suspeitas de que o executivo de Pedro Sánchez tenha mesmo mandado espiar 65 líderes e personalidades da Catalunha.

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Nem a divulgação da espionagem ao telemóvel de Pedro Sánchez desviam as atenções das escutas ilegais do Governo aos líderes catalães Reuters/POOL

O Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) juntou-se nesta terça-feira à direita (Partido Popular e Cidadãos) e à extrema-direita (Vox) para impedir que o Congresso de Espanha abrisse uma comissão de inquérito para investigar se o Governo mandou ou não espiar 65 líderes e personalidades catalãs com o programa informático de fabrico israelita Pegasus, num escândalo político que passou a ser conhecido como Catalangate​.

A proposta de criação da comissão tinha partido do Unidas Podemos, que está coligado com os socialistas no Governo, junto com os partidos independentistas e soberanistas.

O chumbo à criação da comissão de inquérito no Congresso dos Deputados acontece um dia depois de o Governo espanhol ter revelado que os telemóveis do primeiro-ministro Pedro Sánchez e da ministra da Defesa, Margarita Robles, tinham sido “infectados” com o programa de espionagem Pegasus.

A maioria dos deputados esteve, no entanto, de acordo em convocar o Presidente do Governo para prestar esclarecimentos ao plenário sobre o Pegasus, o programa de spyware criado pela empresa israelita NSO Group. Ainda não foi divulgada uma data para a presença de Sánchez.

O PSOE recusa a abertura da comissão de inquérito e insiste que o assunto seja analisado apenas pela comissão de segredos oficiais, que impede a divulgação pública das informações recolhidas.

O Unidas Podemos e os independentistas catalães desconfiam, no entanto, de uma investigação à porta fechada sobre um escândalo de espionagem que atingiu dezenas de líderes do independentismo catalão e agora os próprios socialistas.

O Governo de Sánchez “não está consciente das consequências da votação”, disse Gabriel Rufián, porta-voz do Esquerda Republicana da Catalunha. “Quem acredita que isto pode ser encoberto e não chegará à Justiça, não está a compreender a magnitude do que temos aqui.”

Já Míriam Nogueras, do Juntos pela Catalunha, foi mais directa: “A rejeição de uma comissão de inquérito pelo PSOE significa que [os socialistas] não estão interessados em saber a verdade. Só nos resta pressupor que têm algo a esconder.”

O ministro da Presidência, Félix Bolaños, considerou que a abertura de uma nova comissão de inquérito seria inútil porque as pessoas com alguma informação não poderiam partilhá-la porque a lei impede que se divulguem segredos de Estado. “Só falaria quem não sabe”, disse Bolaños.

O ministro aproveitou para negar que a divulgação da espionagem aos telemóveis de Sánchez e Robles seja “uma cortina de fumo” para desviar atenções das escutas ilegais do Governo aos catalães, divulgadas há duas semanas pelo Citizen Lab da Universidade de Toronto.

O uso do programa israelita Pegasus pelo Governo no chamado Catalangate tem sido constantemente negado pelo executivo, mas as suspeitas adensam-se.

Além das dúvidas sobre o que motivou o Governo espanhol a revelar escutas ilegais aos telemóveis de Sánchez e Margarita Robles em pleno debate sobre a espionagem aos catalães, pesa o aparente desconforto dos socialistas quanto à investigação do Catalangate e dos ataques aos seus próprios líderes.

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