Johnson diz ao Parlamento ucraniano que só há um desfecho na luta entre “o bem e o mal”: “A Ucrânia vai vencer”
Num discurso inédito na Verkhovna Rada, o primeiro-ministro britânico elogiou a “força moral” e o “patriotismo” da resistência, criticou o “erro gigantesco” e a “loucura” de Putin e anunciou mais 300 milhões de libras em ajuda militar à Ucrânia.
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O primeiro-ministro do Reino Unido continua determinado em querer liderar os esforços do Ocidente no apoio à Ucrânia e na oposição à Federação Russa, e foi com esse compromisso que interveio esta terça-feira no Parlamento ucraniano, em Kiev, tornando-se no primeiro líder mundial a fazê-lo desde que as tropas russas invadiram o país vizinho, a 24 de Fevereiro.
Na linha do estilo utilizado por Volodymyr Zelensky, Presidente da Ucrânia, nas intervenções que fez em diversos parlamentos por todo o mundo – incluindo o português, há cerca de duas semanas –, e citando Winston Churchill, Boris Johnson dirigiu-se aos deputados num tom elogioso, enaltecendo a resistência “patriótica” da população e enquadrando a guerra como uma luta entre “o bem”, a “democracia”, a “liberdade” e a “lei” – representados pela Ucrânia – e o “mal”, a “tirania”, a “opressão” e a “ilegalidade” – simbolizados pela Rússia.
“Hoje tenho uma mensagem para vos transmitir: a Ucrânia vai vencer, a Ucrânia vai ser livre”, afiançou o primeiro-ministro do Reino Unido, num vídeo transmitido na Verkhovna Rada (Parlamento), cujo texto foi publicado na íntegra no site do Governo britânico.
“Este é o melhor momento da Ucrânia, que será lembrado e recordado pelas gerações futuras”, garantiu Johnson, recuperando uma das expressões mais icónicas (“finest hour”) de Churchill, num dos seus discursos marcantes durante a II Guerra Mundial.
“Os vossos filhos e netos vão dizer que os ucranianos ensinaram ao mundo que a força bruta de um agressor não conta para nada contra a força moral de um povo determinado em ser livre”, afirmou.
“Vão dizer que os ucranianos demonstraram, através da sua tenacidade e do seu sacrifício, que os tanques e as armas não podem impedir uma nação de lutar pela sua independência, e é por isso que acredito que a Ucrânia vai vencer”, acrescentou.
Para além dos elogios, Boris Johnson também anunciou que o Governo britânico vai contribuir com 300 milhões de libras (cerca de 356 milhões de euros) adicionais em ajuda militar, que inclui o fornecimento de sistemas de radares de contrabateria, drones para transporte de cargas pesadas, sistemas de bloqueio de sinais de GPS e equipamento de visão nocturna.
Este material militar soma-se aos mísseis antitanques fornecidos antes da invasão russa e aos mísseis antinavios e sistemas antiaéreos Stormer já prometidos e que deverão chegar ao território ucraniano “nas próximas semanas”.
“Em conjunto com os vossos outros amigos, vamos continuar a abastecer a Ucrânia com armas, financiamento e ajuda humanitária, até termos atingido o nosso objectivo a longo prazo – que tem de ser o de fortalecer a Ucrânia de modo a que ninguém ouse sequer voltar a atacá-la”, informou o primeiro-ministro britânico.
A outra parte do seu discurso no Parlamento ucraniano foi dedicada ao Presidente da Federação Russa. Segundo Johnson, Vladimir Putin cometeu um “erro gigantesco”, ao decidir invadir a Ucrânia e, também por causa da capacidade de resistência ucraniana, as suas fraquezas enquanto líder político foram totalmente expostas pela guerra.
“Vocês [ucranianos] fizeram implodir o mito da invencibilidade de Putin e escreveram um dos capítulos mais gloriosos da História militar e da vida do vosso país. A chamada ‘força irresistível’ da máquina de guerra de Putin quebrou-se perante o objecto inamovível do patriotismo ucraniano e do seu amor pelo país”, atirou o chefe do Governo britânico.
“Quando um líder governa pelo medo, manipula eleições, prende os críticos, amordaça os media e ouve apenas os bajuladores [e] quando não há limites ao seu poder, é quando ele comete erros catastróficos”, sublinhou Johnson.
“O erro de Putin foi o de invadir a Ucrânia, e as carcaças do armamento russo espalhadas pelos vossos campos e pelas vossas ruas são não só monumentos à sua loucura, mas aos perigos da própria autocracia”, proclamou. “Aquilo que [Putin] fez foi fazer publicidade à democracia.”