Isabel Mota: “Não é uma fatalidade a gente ficar sempre para trás”

Como membro activo da geração que governou o país nos anos 90, Isabel Mota reconhece que as suas expectativas sobre o crescimento do país ficaram aquém do esperado. Portugal cai nos rankings, mas “não se pode perder a esperança”.

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"Uma maioria absoluta, por definição, tem mais obrigações em termos de corresponder aos anseios da população", considera a presidente da Fundação Calouste Gulbenkian Rui Gaudêncio

Portugal mudou muito desde que fez parte do governo. Está optimista relativamente ao futuro?
Mixed feelings [sentimentos contraditórios]. Aquilo que foi a performance do nosso país nos últimos anos não nos dá para ser muito optimistas. Caímos muito nos rankings quando comparados com os outros países. O país não está a crescer. Mas, dito isto, não há nenhuma razão para não crescer. Penso que os apoios que vamos ter agora, e se houver capacidade política para os levar a cabo…

Acha que falta coragem, como dizia Cavaco Silva num artigo de opinião no PÚBLICO?
Não acho que seja falta de coragem, mas é mais uma questão do modelo económico em que as pessoas acreditam. Acho que há condições e não é uma fatalidade a gente ficar sempre para trás. Vamos ter recursos, se houver vontade política, e há com certeza, que seja aberta e com a contribuição de todos.

A expectativa da sua geração de jovens políticos dos anos 90 ficou um bocadinho aquém.
Claro que ficou.

Como é que se sente com isso?
Tive o privilégio de vir para a Gulbenkian, em que tive uma capacidade criadora e transformadora, de levar a cabo as coisas, em muitos sectores, que me deu uma riqueza enorme. Mas o período em que exerci funções governamentais, a seguir à adesão, foi um período fantástico. Havia todo um futuro.

Íamos ser tão ricos com a Alemanha…
Apesar de tudo, estamos muito melhor. Mas houve aqui um recuo claro ou uma incapacidade de enfrentar os diferentes momentos que vieram depois. Há várias razões, todos sabemos, mas o que não se pode é perder a esperança.

E, no presente, ter uma maioria absoluta deixa-a optimista?
Uma maioria absoluta, por definição, tem mais obrigações em termos de corresponder aos anseios da população. Se for encarada como deve ser, é, com certeza, uma oportunidade. E, com os dinheiros todos que vamos ter, não há falta de recursos financeiros. É preciso o país sentir e envolver-se num projecto colectivo para o futuro. Isso faz a diferença de mobilização das pessoas. Não é só um governo que faz as coisas. É impossível pensar assim. Todos têm um papel a desempenhar. Não podemos ser fatalistas.

O que é que vai fazer a partir de dia 4? Não vale dizer que vai tomar conta dos netos...
Tomar conta não, mas gozar vou, que é uma coisa diferente.

O que é que vai fazer?
Não sei. Vou descansar. Passear no jardim e vir a concertos. Mas, se houver alguma coisa que surja e que eu goste, porque isso tem sido um privilégio que tenho tido ao longo da vida... O futuro a Deus pertence, como se costuma dizer. Mas vou mesmo descansar e gozar os netos.

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