Ucrânia quer China como mediadora e co-responsável pela segurança na região
Ministro dos Negócios Estrangeiros ucraniano, Dmytro Kuleba, apela ao Governo chinês para que convença a Rússia a pôr fim à invasão da Ucrânia. Em entrevista à agência Xinhua, o responsável salientou as consequências da guerra para a economia chinesa.
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O Governo ucraniano renovou um apelo para que a China se imponha como o principal mediador nas negociações com vista ao fim da invasão da Ucrânia pela Rússia, e para que as autoridades chinesas passem a funcionar como uma garantia de segurança na região.
Numa entrevista à agência chinesa Xinhua — a primeira de um alto responsável ucraniano a um órgão de informação estatal chinês desde o início da invasão —, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Ucrânia, Dmytro Kuleba, disse que a China está bem posicionada para impedir “o agravamento da catástrofe humanitária” no Leste da Europa.
“Todas as partes, incluindo a Rússia, podiam ter visto que a guerra contra a Ucrânia era um erro”, disse Kuleba, citado pelo South China Morning Post. “Todos os problemas deviam ter sido resolvidos através de negociações, e não com o uso da força.”
Mais de dois meses depois do início da invasão russa, a 24 de Fevereiro, a Ucrânia volta a pedir à China — o principal aliado económico da Rússia, após a aplicação de várias rondas de sanções pelos Estados Unidos e pela União Europeia — que convença o Kremlin a “pôr fim à invasão, levantar o bloqueio ao comércio internacional e respeitar a integridade territorial de outras nações”.
É pouco provável que o apelo do ministro dos Negócios Estrangeiro ucraniano seja recebido com mais abertura do que há um mês, quando Kuleba falou ao telefone com o seu homólogo chinês, Wang Yi.
Até agora, a China tem-se recusado a condenar a invasão russa e tem resistido aos apelos do Ocidente para que imponha as suas próprias sanções à Rússia. Mais do que isso, os EUA e os países da União Europeia temem que a China possa vir a apoiar militarmente a Rússia no terreno.
Crise económica
Na entrevista à Xinhua, Kuleba salientou que a guerra na Ucrânia já provocou uma crise global no sector alimentar e em toda a economia, o que também é extremamente prejudicial para a China.
“É provável que seja um golpe duro para a economia da China”, disse o ministro ucraniano, referindo-se às consequências da invasão russa. “Se a Rússia não for travada, as crises vão repetir-se nos próximos anos.”
Num cenário ideal, do ponto de vista Kiev, a China seria a responsável pela imposição de um cessar-fogo e, depois disso, pela segurança na região.
“A Ucrânia está a estudar a possibilidade de obter garantias de segurança de membros permanentes do Conselho de Segurança, incluindo a China, e de outras potências”, disse Kuleba.
“A nossa proposta de a China ser um dos fiadores da segurança na Ucrânia é um símbolo do respeito e da confiança que temos pela República Popular da China.”
Os observadores ocidentais admitem que o Governo chinês aceite integrar uma força de manutenção de paz na região do Donbass, no Leste da Ucrânia. Mas consideram que a ideia de a China ser o principal desbloqueador do conflito é uma ilusão.
“O fiador da segurança da Ucrânia, na prática, tem sido a NATO. E essas garantias de segurança levaram à destruição do país”, disse Gal Luft, director do Instituto de Análise da Segurança Global, com sede em Washington.
“A China nunca irá aceitar fazer esse papel. No máximo, poderá fazer parte de uma missão de manutenção da paz, desde que seja apoiada por uma resolução das Nações Unidas.”