Câmara de Setúbal responsabiliza Governo por não ter alertado municípios sobre alegadas associações pró-Putin
Autarca reafirma que associação Edinstvo também colaborava com o SEF e recorda que funcionária russa tem nacionalidade portuguesa há 15 anos.
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A Câmara Municipal de Setúbal responsabiliza o Governo por não ter alertado os municípios, e outras entidades envolvidas no acolhimento aos refugiados ucranianos, da existência de associações pró-Putin em actividade em Portugal.
“Lamentamos que, tendo, supostamente, sido feitos alertas aos serviços de informação do Estado, de acordo com as afirmações do senhor Pavlo Sadokha, presidente da Associação dos Ucranianos em Portugal, estes serviços não tenham informado as diversas Câmaras Municipais ou entidades que acolhem refugiados para eventuais acções que possam configurar actos de espionagem”, afirma a autarquia em nota divulgada este sábado na página oficial do município no Facebook.
A autarquia comunista insiste que pediu esclarecimentos ao primeiro-ministro “logo que surgiram as primeiras suspeitas” e que “caso o Governo entendesse que as suspeitas lançadas pela senhora embaixadora [da Ucrânia] eram credíveis, deveria, de imediato, ter informado a Câmara Municipal de Setúbal, e as outras autarquias onde existem associações de imigrantes alvo de suspeitas, da necessidade de adoptar medidas, o que não aconteceu, embora se saiba que é o Governo quem detém os necessários instrumentos para averiguar acusações de espionagem”.
Na mesma nota, o município destaca, também, que foi a administração central quem concedeu nacionalidade portuguesa à funcionária que agora foi afastada do gabinete de acolhimento aos refugiados.
“Relativamente à senhora Yulia Kashina, referida nas várias notícias entretanto divulgadas, cumpre esclarecer que lhe foi atribuída, pelos órgãos de soberania nacionais, nacionalidade portuguesa em 2007, ou seja, há 15 anos, tendo, por isso, dupla nacionalidade, e, desta forma, todos os direitos e deveres de qualquer cidadão português. Yulia Kashina trabalha com esta Câmara Municipal há mais de 17 anos, tendo entrado para os seus quadros como técnica superior jurista, em 1 de Dezembro de 2021.”
A Câmara de Setúbal reafirma que “a Edinstvo e os seus dirigentes, nomeadamente o senhor Igor Kashin, colaboram desde há muito com entidades como o IEFP ou a Segurança Social”, incluindo com o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, com quem essa cooperação existia também “até há poucas semanas”.
“É demonstração cabal desta cooperação o facto de o SEF, depois de ter desmentido a Câmara Municipal numa primeira fase, tenha, entretanto, confirmado, de acordo com o jornal PÚBLICO, o recurso a dirigentes da Edinstvo para várias iniciativas, anunciando a abertura de um inquérito interno a este propósito, e tenha decidido, segundo o mesmo jornal, ‘suspender quaisquer solicitações efectuadas a pessoas ligadas à Associação dos Emigrantes de Leste (Edintsvo)’”, refere a mesma nota.
Na publicação, a autarquia sadina diz ainda que “repudia com veemência toda a campanha de mentira e distorção dos factos montada em torno desta matéria” e garante que vai continuar a apoiar os refugiados ucranianos.
O Governo, através da secretaria de Estado da Igualdade e Migrações, que agora está sob a tutela da ministra adjunta Ana Catarina Mendes, disse ter solicitado ao fim da manhã desta sexta-feira, “com carácter de urgência” ao Alto Comissariado para as Migrações (ACM) “todas as informações e esclarecimentos sobre a notícia do Expresso”.
Num curto comunicado, o gabinete de imprensa de Sara Guerreiro acrescentava que tinham sido solicitados “esclarecimentos aos parceiros locais do ACM, como a rede de Centros Locais de Apoio à Integração de Migrantes (CLAIM) e associações locais”. O ACM está sob tutela da secretaria de Estado da Igualdade e Migrações, junto da ministra adjunta e dos Assuntos Parlamentares, Ana Catarina Mendes. O PÚBLICO já questionou durante o dia de hoje o Governo e o ACM para perceber se já haveria respostas ao pedido urgente, mas até agora ainda não obteve qualquer feedback.