Em confinamento rigoroso por causa da covid, habitantes de Xangai falam de castigo colectivo

Há mais de um mês que os residentes só podem sair à rua para fazer testes de covid. Pequim teme ser a próxima cidade afectada pela política de “covid zero”.

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Teste à covid-19 numa rua de Xangai Reuters

No final da semana passada, as autoridades de Xangai, a mais populosa cidade da China, previam que pudesse haver uma suavização do confinamento estrito a que estavam sujeitos os cerca de 25 milhões de habitantes. Mas o número de infecções diárias não diminuiu – aumentou. E as medidas que já eram duras – tornaram-se ainda mais duras.

Na sexta-feira, a cidade registou 5487 novos casos positivos, o número mais alto desde o início da pandemia. Este sábado, as autoridades informaram não ter detectado novos casos fora das áreas em quarentena. As medidas têm como objectivo impedir qualquer transmissão do vírus, suprimindo-o, algo que é cada vez mais difícil com a maior transmissibilidade da variante Ómicron.

Trabalhadores a usar fatos de protecção contra a covid-19 andam de triciclo pelas ruas da cidade Reuters/ALY SONG
Casal na varanda do seu apartamento durante o confinamento EPA/ALEX PLAVEVSKI
Cidadão em confinamento em Xangai, na China EPA/ALEX PLAVEVSKI
Moradores confinados são testados com regularidade pelos serviços de saúde Reuters/ALY SONG
Trabalhador de um serviço de comida faz entrega num dos bairros da cidade Reuters/BRENDA GOH
Casal abraça-se através da barreira de protecção Reuters/ALY SONG
Paragem de autocarro no centro de Xangai Reuters/ALY SONG
Trabalhadores a usar fatos de protecção contra a covid-19 andam de bicicleta pelas ruas da cidade Reuters/BRENDA GOH
Cidadãos em quarentena aguardam pelo serviço de entrega de comida à porta de casa EPA/ALEX PLAVEVSKI
A cidade tem estado praticamente deserta no último mês EPA/ALEX PLAVEVSKI
Posto de controlo numa das pontes da cidade EPA/ALEX PLAVEVSKI
Confinamento dos 26 milhões de habitantes da cidade foi imposto no início de Abril EPA/ALEX PLAVEVSKI
Dois polícias fazem patrulha para impedir que cidadãos entrem em zonas reservadas à quarentena de pessoas com covid-19 EPA/ALEX PLAVEVSKI
Testagem à covid-19 no centro da cidade EPA/ALEX PLAVEVSKI
Polícias bloqueiam uma das estradas durante o confinamento EPA/ALEX PLAVEVSKI
Trabalhadores da saúde são vistos numa das áreas mais turísticas da cidade, agora deserta EPA/ALEX PLAVEVSKI
Esta sexta-feira, a cidade registou 52 novas mortes por covid-19 e 5487 novos casos positivos, o número mais elevado desde o início da pandemia Reuters/ALY SONG
Trabalhadores da saúde que fazem testagem à covid-19 durante uma pausa Reuters/ALY SONG
Trabalhador que desinfecta locais públicos numa das ruas da cidade Reuters/ALY SONG
Autoridades disseram que, nos próximos dias, vão iniciar a testagem em massa para determinar que zonas da cidade poderão ter uma "quantidade limitada de liberdade" Reuters/STRINGER
Habitantes aguardam na fila para serem testados à covid-19 Reuters/ALY SONG
Trabalhadores da saúde prepararam-se para realizar testagem à covid-19 Reuters/ALY SONG
Durante o confinamento, os moradores de Xangai ficaram sem acesso a comida e necessidades diárias, face ao encerramento de supermercados e farmácias Reuters/ALY SONG
Estradas desertas da cidade com mais de 26 milhões de habitantes EPA/ALEX PLAVEVSKI
Mulher em quarentena sentada no terraço da sua casa durante a quarentena EPA/ALEX PLAVEVSKI
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Trabalhadores a usar fatos de protecção contra a covid-19 andam de triciclo pelas ruas da cidade Reuters/ALY SONG

A proibição total de sair de casa mantém-se com a excepção de saídas para fazer testes, levados a cabo no exterior – as pessoas são chamadas a qualquer hora, há famílias inteiras a ir fazer testes na rua à noite, descreve o diário francês Libération, que chama ao que se está a passar na cidade um “castigo colectivo sem fim”.

“Tenho a sensação de estar a passar pela grande fome”, entre 1959 e 1961, durante a política do Grande Salto em Frente, de Mao Zendong, quando morreram pelo menos 45 milhões de pessoas, disse Fang, habitante de Xangai, ao Libération, por telefone.

As autoridades prometeram que ninguém ficaria sem nada, mas acumulam-se relatos de pessoas que não conseguem comprar comida ou medicamentos, ou recebem-nos já estragados pelo tempo que demoram as entregas.

Por isso, muitos tentam comprar mantimentos através das aplicações de entrega – que não chegam para as encomendas. Quem tiver sorte de conseguir, pagará um preço muito inflacionado: um cesto de frutas pode chegar aos 80 euros, duas costeletas de porco aos 57 euros.

Quem tiver um teste positivo, é levado para os “centros de quarentena”, vestidos com fatos de protecção completa, em colunas escoltadas pela polícia. Há casos em que pais com teste positivo são levados, mas os filhos ficam em casa. As autoridades prometem levar-lhes o necessário – mas poucos confiam.

Se houver animais, é preciso encontrar quem fique com eles, caso contrário, serão abatidos. Um vídeo de trabalhadores do município a matar, com barras, o cão de uma mulher levada para isolamento por estar positiva que ficou para trás levou a grande indignação.

As medidas renovadas para controlo da covid-19 nos últimos dez dias incluem reforço dos controlos rodoviários, desinfecção das residências e instalação de detectores de movimento nas portas das pessoas infectadas, enquanto se aguarda que sejam transferidas para os centros de isolamento, ou ainda barreiras metálicas à volta de algumas casas e edifícios que tinham registado casos há menos de sete dias, com vedações usando uma malha de arame suficientemente larga para permitir a realização de testes, para evitar ter de abrir os portões, e com vigilância 24 horas por dia, diz o diário Le Monde.

No jornal francês, uma residente de um destes prédios diz que a polícia chegou a sua casa à meia-noite para dizer que como havia um número significativo de casos de infecção no prédio, iriam todos ser levados para um centro de isolamento. Vestidos com fatos de protecção total, fizeram uma viagem de sete horas de autocarro, sem pausas.

“Havia uma mulher grávida, uma pessoa com mais de 80 anos, e uma criança de cinco anos”, relatou.

Residentes dizem que a incerteza sobre o que é possível é tão mau como o carácter draconiano das medidas. Em alguns casos, os comités de protecção que estão encarregados da gestão bairro a bairro admite, por exemplo, que vizinhos tratem de animais. Noutros, selam os apartamentos sem permitir qualquer auxílio.

Temendo que possa acontecer o mesmo que em Xangai, em Pequim começou uma corrida aos supermercados e a mantimentos.

A cidade está a terminar uma segunda ronda de uma campanha de testagem em massa de quase 20 milhões de habitantes (cerca de 90% da população total da cidade). Este sábado, as autoridades da capital chinesa anunciaram que, até 4 de Maio, os restaurantes da cidade estarão fechados.

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