Jovens sul-coreanos temem regresso dos jantares de trabalho com o fim das restrições pandémicas
Na Coreia do Sul, como em todo o mundo, os encontros e jantares de empresas deixaram de se realizar devido à pandemia. Contudo, com o levantamento de restrições de covid-19 no país, os empregadores pretendem reavivar esta tradição chamada hoeshik, que já é contestada por vários trabalhadores jovens.
Quando a Coreia do Sul anunciou que ia levantar a maioria das restrições de covid-19 durante o mês de Abril, Jang, de 29 anos, funcionária num escritório, estava mais preocupada do que feliz.
O fim do distanciamento social reavivou o ritual de encontros às refeições após o trabalho com os colegas, que faz parte de uma tradição chamada hoeshik, em coreano. Jang está entre o cada vez maior grupo de trabalhadores jovens que consideram esta uma tradição empresarial obsoleta, que interfere com o tempo pessoal dos empregados.
“Hoeshik faz parte da tua vida laboral, só que é algo não remunerado”, diz a sul-coreana de 29 anos, que vive e trabalha em Seul e pediu para ser apenas identificada pelo apelido, de maneira a poder falar abertamente sobre o seu empregador.
Na semana passada, a Coreia do Sul pôs fim ao recolher obrigatório à meia-noite direccionado para os bares e restaurantes, assim como com a limitação de dez pessoas em encontros privados. As regras serviam como directrizes para as empresas adoptarem políticas de teletrabalho e controlar ajuntamentos não essenciais, como sessões de bebidas fora de horas.
“A pior parte dos jantares pós-trabalho é que não sabes quando acabam. Com bebidas, pode continuar pela noite dentro até sabe-se lá quando”, afirma Jang. Mesmo antes da pandemia, um número crescente de sul-coreanos, particularmente trabalhadores jovens, não estavam satisfeitos com jantares de empresas e eventos semelhantes, como retiros ou caminhadas com os colegas de trabalho ao fim-de-semana.
A pandemia pode fazer com que a antiga cultura hoeshik desapareça de vez, refere um especialista. “Agora que os empregados sabem o que é ter os períodos fora do horário laboral para eles próprios, as empresas não serão capazes de restaurar a antiga cultura de pós-jantar e de encontros ao fim-de-semana”, acredita Suh Yong-gu, professor de Marketing na Universidade para Mulheres de Sookmyung, em Seul.
De acordo com um questionário recente feito pelo site de recrutamento Incruit Corp, quase 80% dos inquiridos disseram que a cultura de encontros de empresa às refeições mudou durante a pandemia. E 95% admitiram estar satisfeitos com a mudança.
Os últimos dois anos fizeram com que Jang soubesse como eram as suas noites sem hoeshik. A sul-coreana de 29 anos passou mais tempo a arrumar a casa, a cozinhar um bom jantar para si própria e a fazer exercício físico.
Kim Woon-bong, de 30 anos, que começou a trabalhar para o Governo da cidade em 2021, diz sentir-se sortudo por não ter de seguir a cultura obrigatória de hoeshik devido às regras de distanciamento social. “Eu gostava dos encontros às refeições durante o almoço porque sabia que acabariam às 13 horas”, afirma. “Espero cautelosamente que a cultura de jantares de empresa seja alterada, agora que estava quase desaparecida há dois anos.”
Apesar do desagrado crescente dos trabalhadores jovens face aos jantares pós-trabalho, muitos seniores ainda acreditam que estes encontros são necessários para se criarem laços com os colegas, refere Suh. “Será mais um conflito entre a velha e a nova geração”, aponta. “Mas, mesmo que a cultura do pós-jantar e dos encontros ao fim-de-semana sobreviva, não será com tanta frequência como antes.”
Embora algumas empresas estejam a voltar gradualmente para os escritórios, outras tentam encontrar um meio-termo, optando por modelos híbridos ao invés de implementar um esquema completo de regresso ao local de trabalho.
A SK Telecom, por exemplo, está a criar novos espaços de trabalho para permitir aos empregados escolherem entre trabalhar em casa, no seu escritório principal ou noutros locais pequenos e dispersos que a empresa tem aberto.
“Não temos uma orientação específica relativamente a jantares de empresa, mas serão menos frequentes quando muitos dos nossos empregados estão a trabalhar em casa”, diz um funcionário da empresa, que pediu para não ser identificado. “O importante é que não nos importamos onde os nossos empregados trabalham ou o quão frequentemente vêm para o escritório, desde que isso ajude a melhorar a sua eficiência.”