Coreógrafo belga Jan Fabre condenado a 18 meses de prisão por assédio sexual
Figura influente e polémica das artes cénicas tinha sido acusado por várias bailarinas e colaboradores da sua companhia.
O coreógrafo e artista visual belga Jan Fabre, que apresentou por diversas vezes espectáculos em Portugal, foi condenado esta sexta-feira a 18 meses de prisão. O coreógrafo de 63 anos havia sido acusado de “violência, humilhação e assédio sexual” e também “atentado ao pudor” por 12 bailarinas e colaboradores da sua companhia, a Troubleyn. A sentença é acompanhada de uma suspensão da execução por um período de cinco anos, durante os quais ficará privado dos seus direitos cívicos, segundo o Tribunal Penal de Antuérpia.
Durante o julgamento havia sido pedida uma pena de três anos de prisão, tendo o tribunal considerado que parte dos factos haviam prescrito e descartando acusações de seis das vítimas. O seu caso foi um dos primeiros nas artes cénicas, e em contexto das movimentações #MeToo, com consequências directas na sua carreira, através do cancelamento de espectáculos. Fabre não esteve presente na leitura da sentença, tendo uma das advogadas da acusação, Na-Sofie Raes, afirmado que estavam “satisfeitos com esta sentença”, segundo citação do diário De Standaard.
Ao longo do julgamento, os testemunhos de várias bailarinas deram a imagem de um homem tirânico durante os ensaios, que humilhava regularmente os colaboradores, chegando a chantagear sexualmente alguns. Houve relatos, por exemplo, de sessões de fotos eróticas dirigidas pelo coreógrafo, com o “falso pretexto” da sua publicação em revistas, tendo algumas dessas sessões terminado em relações sexuais. A sua advogada, Eline Tritsmans, admitiu a sua “forte personalidade” e os métodos de trabalho “intensos ou mesmo esgotantes”, no sentido de revelar algumas “dimensões emocionais ocultas.”
A personalidade polémica e intempestiva, e a radicalidade das suas criações, eram conhecidas, tendo-o convertido numa das figuras mais influentes das artes cénicas das últimas três décadas, mas também o colocaram no centro do debate de possíveis abusos no decorrer dos processos criativos, para além de parecer corresponder ao perfil romanceado do “génio” que dirige, e a quem tudo é permitido em nome da criação. Para Fabre, ultrapassar os seus limites, e dos que estavam à sua volta, em nome da arte era defensável. Os que o denunciaram, em 2018, defendem que não se podem justificar algumas condutas em nome da arte.