Comportamento dos cães é determinado pela genética ou ambiente e não pela raça
Esta investigação cruzou dados de estudos genéticos de mais de 2000 cães de diferentes raças, com 18.000 trabalhos de donos de cães sobre o seu comportamento.
A raça dos cães não determina o seu comportamento, que depende principalmente de factores genéticos e ambientais, refere um novo estudo publicado esta semana na revista Science.
Esta investigação, liderada por Kathleen Morrill, da Faculdade de Medicina da Universidade do Massachusetts, cruzou dados de estudos genéticos de mais de 2000 cães de diferentes raças, com 18.000 trabalhos de donos de cães sobre o seu comportamento. “A maioria dos traços comportamentais pode ser herdada, mas isso varia apenas um pouco entre as raças. As raças oferecem pouco valor preditivo em indivíduos, já que explicam apenas 9% das variações”, apontam os resultados do estudo.
Como exemplo, os autores da investigação citam a crença popular de que a raça labrador retriever tende a ser mais sociável, como um exemplo de uma relação que não acontece na realidade. Os border collie, no entanto, parecem ser mais propensos do que outras raças de cães a reconhecer e aceitar ordens dos humanos.
Este não é o único estudo sobre cães publicado na última edição da revista Science. A investigação liderada por Rebecca Mancy, da Universidade de Glasgow, revela que a alta mobilidade de alguns cães impede que a doença da raiva desapareça, apesar de sua baixa prevalência entre as comunidades.
A doença, que geralmente é transmitida pela dentada de cães infectados, causa dezenas de milhares de mortes por ano, principalmente entre crianças de países pobres em África e na Ásia. Apesar das campanhas de vacinação e do abate das populações afectadas, o vírus continua a ser transmitido. Segundo os investigadores, a “chave” está no comportamento individual dos próprios cães, que não é muito previsível.
Alguns agem como “superdisseminadores”, ao viajarem longas distâncias e introduzirem o vírus em comunidades anteriormente não expostas. Outros cães infectados mordem mais do que os não infectados, espalhando o vírus amplamente antes de morrer.
Michael Antolin, investigador da Universidade do Colorado, destaca que esta descoberta pode oferecer pistas de como a covid-19 continuará a representar um risco quando se tornar finalmente numa doença endémica, mesmo com a generalização da vacinação. “Apesar de a endemia ser um resultado mais desejável que a pandemia, não é o fim de uma doença, mas um novo desafio”, aponta Michael Antolin num texto publicado na mesma edição da revista científica.