Marcelo defende “condições apelativas” de carreira nas Forças Armadas
O reforço de meios de que o Presidente da República falou no seu discurso do 25 de Abril passa também por uma melhoria nas condições de carreira nas Forças Armadas.
O Presidente da República defendeu na quarta-feira “condições apelativas” de carreira para as Forças Armadas e “equipamentos compatíveis a prazo com as missões” que assumem, alertando que “um dia não dá para fazer omeletes sem ovos”.
Em declarações aos jornalistas, no Palácio de Belém, em Lisboa, Marcelo Rebelo de Sousa explicou que ao abordar este tema no 25 de Abril quis procurar apoio popular para maior investimento nas Forças Armadas, num momento em que os efeitos da guerra na Ucrânia se sentem também em Portugal. “É uma mudança que faz com que as pessoas estejam hoje mais sensíveis, por isso este discurso tinha de ser agora”, considerou.
Questionado sobre o compromisso assumido por Portugal no quadro da NATO de aumentar progressivamente os gastos com Defesa até 2% do Produto Interno Bruto (PIB), o chefe de Estado e Comandante Supremo das Forças Armadas relativizou esse objectivo: “Eu a mim não me interessa tanto essa coisa do jogo dos 2%”.
“O que interessa é o seguinte: há motivação em relação a quem quer ser militar para ser militar, há ou não há, e para continuar militar, há ou não? Se não, os 2% não significam nada, porque não há pessoas. Quer dizer, temos equipamentos óptimos sem pessoas”, argumentou.
Segundo Marcelo Rebelo de Sousa, o que está em causa “é mais complicado” do que aumentar o orçamento da Defesa, “é preciso entrar na sociedade portuguesa, e entrar num momento em que as pessoas estão sensíveis”.
“Aquilo que dá mais notícia em termos mediáticos é 2% do orçamento e acordo entre partidos. A mim o que interessa verdadeiramente é os portugueses aderirem à ideia. Porque, se não aderirem, os partidos assim como hoje dizem uma coisa, amanhã se perceberem que os portugueses querem outra coisa os partidos deixam cair. Em quantas campanhas eleitorais se falou de Defesa? Muito raramente. Porquê? Porque os portugueses não achavam fundamental”, reforçou.
O Presidente da República disse que tem “acompanhado qual é o estado de espírito das Forças Armadas” e reiterou que “estão a fazer milagres”.
“É preciso aprontar rapidamente um meio preciso para a NATO? Fazem isso e conseguem fazer o milagre. Não dá para fazer milagres sistemáticos, que é fazer omeletes sem ovos. Neste momento, estamos a fazer omeletes com poucos ovos. Um dia não dá para fazer omeletes sem ovos”, alertou.
“Os portugueses têm de perceber isso”, insistiu.
O chefe de Estado interrogou como pode haver Forças Armadas motivadas “se as promoções sistematicamente chegarem com um ano de atraso -- com a “troika” foi assim, mas de repente passamos a viver em “troika” em termos de promoções?”.
“Ou se na entrada nas Forças Armadas, de repente a pessoa pensar duas vezes: se eu for para outro corpo que serve o Estado importante e tenho melhor estatuto, por que é que vou para as Forças Armadas? Ou então entram nas Forças Armadas e depois saem”, apontou.
Marcelo Rebelo de Sousa referiu que “ter Forças Armadas preparadas para três, quatro, cinco, seis meses é ter fragatas prontas, é ter aviões prontos, é ter condições para unidades do Exército, se for necessário intervir, como acontece na Roménia estarem preparadas para isso, e em número suficiente para não serem sempre os mesmos -- que estão a rodar consecutivamente na República Centro-Africana”.
De acordo com o Presidente da República, em resumo, “há dois tipos de intervenções que os portugueses têm de assumir” em relação às Forças Armadas: Primeira, “equipamentos compatíveis com as missões que nós estamos a assumir, e não é agora, é compatíveis a prazo”, com um “esforço continuado. Segunda, “condições de promoção e de perspectiva de vida e de carreira”.
No seu entender, muitas pessoas congratulam-se com a participação das Forças Armadas, por exemplo, no plano interno, no processo de vacinação contra a covid-19, mas depois têm reticências em relação a um maior investimento neste sector.
“Por isso é que senti o dever como Comandante Supremo das Forças Armadas de dizer o que disse”, justificou.