Macron procura chefe de Governo com olho nas legislativas
Esquerda e extrema-direita vão tentar obter uma maioria nas eleições de Junho para impor um primeiro-ministro que limite os poderes do Presidente da República. Macron quer propor um nome que agrade à maioria do eleitorado.
O Presidente francês, Emmanuel Macron, está a decidir quem poderá apresentar como primeiro-ministro – ou primeira-ministra – para tentar ganhar o máximo de votos nas legislativas. Macron precisa destes votos para evitar que haja uma maioria, ou acordo para uma maioria parlamentar, da oposição, e que esta aprove no Parlamento um primeiro-ministro de coabitação, de outro partido, que imponha limites aos seus poderes presidenciais e que o impeça de seguir com o seu programa de Governo.
Depois de ter sido reeleito este domingo na segunda volta das presidenciais, Macron prepara agora uma espécie de remodelação governamental a apresentar antes das legislativas, com uma composição que poderia depois ser ajustada conforme os resultados da eleição. Esta possibilidade abriu-se com o anúncio do primeiro-ministro, Jean Castex, que não iria manter-se no cargo. Segundo o diário Le Monde, espera-se uma decisão de Macron na próxima semana para este Executivo, com nomes apenas nas pastas principais.
Em especial foco está a chefia do Governo. Segundo a rádio Europe 1, entre os favoritos para substituir o actual primeiro-ministro, Jean Castex, estão o ministro da Agricultura, Julien Denormandie, e a ministra do Trabalho, Elisabeth Borne, embora uma fonte sublinhasse que se trata “de duas opções entre várias”, e que a escolha seria apenas de Macron. “Não estamos a salvo de uma surpresa”, disse ainda um membro do partido de Macron, sublinhando que ninguém tinha previsto a nomeação de Édouard Philippe em 2017 nem a de Jean Castex em 2020.
Questionado na quarta-feira sobre se ia nomear uma pessoa de esquerda, Macron respondeu que “a cor política não diz tudo”, e quem quer que escolha para chefiar o Governo será “alguém que esteja ligado à questão social, ambiental, e produtiva”, disse.
No seu último comício de campanha, Macron pegou numa ideia do candidato de esquerda radical Jean-Luc Mélenchon, que ficou em terceiro lugar na primeira volta, pouco atrás de Marine Le Pen, de que deveria ser o primeiro-ministro (ou primeira-ministra) a pessoa directamente encarregada pelo planeamento ecológico, o que poderá estreitar um pouco as suas opções para o cargo.
Mas se Macron tem de piscar o olho à esquerda, também não pode descurar a direita, que poderá ser a chave para alianças parlamentares, essenciais para ter um primeiro-ministro do seu campo caso o seu partido não consiga uma maioria ou uma aliança maioritária. Segundo uma sondagem da Elabe, seis em cada dez franceses não querem que o partido de Macron, A República em Marcha, tenha a maioria nas legislativas de 12 e 19 de Junho. Segundo este estudo de opinião, esta percentagem que sobe para 69% entre os trabalhadores e perto de 90% entre os apoiantes da extrema-direita e da esquerda radical.
No entanto, uma outra sondagem, da Harris Interactive, previa que o partido de Macron ganhasse entre 326 e 366 lugares, uma maioria na Assembleia Nacional de 577 lugares, com 117 a 147 lugares para a extrema-direita e entre 73 e 93 lugares para a esquerda.
Para além dos cálculos políticos, “há necessidade de harmonia, uma estereofonia” entre o Presidente e o seu primeiro-ministro, “uma profunda cumplicidade e um esforço para tornar a vida parlamentar e o debate político apaixonados”, disse ao jornal Le Figaro o presidente do partido MoDem (centro) François Bayrou, aliado próximo de Macron.