Bohumil Hrabal: como um arbusto de jasmim em flor

Contra a insalubridade guerreira, o elogio da imanência do mundo e do desejo erótico num pequeno grande romance.

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A pequena história quotidiana, o império dos sentidos, eis a fábrica da ficção de Hrabal, tão avessa às grandes narrativas DR

Já sabemos, pelo menos desde Homero, que o desejo amoroso desvaira mortais e deuses. Ou, como disse Bataille, é a aprovação e afirmação da vida até na morte. Este livro do escritor checo Bohumil Hrabal comprova-o generosamente. É claro que poderemos lê-lo apenas como louvor da resistência patriótica e da consciencialização política do protagonista, que no final faz explodir um comboio dos ocupantes alemães num lugarejo na Boémia, no final da Segunda Guerra Mundial. E isso tem sido feito desde a sua publicação original em 1965. Parece-nos, contudo, que o alcance de Comboios Rigorosamente Vigiados é mais universal e mais entusiasmante. Momentos antes do atentado que fará ir pelos ares o comboio “rigorosamente vigiado” que transporta armas e munições, o sinaleiro Hubicka pergunta a Milos Hrma se este não sente medo, e o protagonista responde: “ — Não, nunca estive tão calmo […] sou um homem, sou um homem, tal como o senhor sinaleiro, sou um homem e é maravilhoso” (p. 111). É que, consumada finalmente a sua primeira experiência sexual, o cândido narrador acabara de entrar na vida adulta, que é como sabemos (pelo menos desde Homero) a idade adequada aos feitos guerreiros (e também aos amorosos). Não me lembro, aliás, de outro romance que trabalhe com igual lirismo e humor as tribulações da iniciação erótica de um mancebo. E o facto de a narração ser aqui feita pelo protagonista mais acentua estes feitos.

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