Casos de hepatite aguda em crianças têm sido pontuais nos últimos dias na Europa
Portugal ainda sem casos. “Estamos preparados para que, a qualquer altura, isso possa acontecer”, garante director do Programa Nacional para as Hepatites Virais.
O director do Programa Nacional para as Hepatites Virais afirmou esta quarta-feira que “não está a haver uma explosão de casos” de hepatite aguda em crianças a nível europeu, apesar de terem surgido alguns casos pontuais.
“Ontem [terça-feira] tive conhecimento de mais dez casos espalhados por países, hoje foi identificado um caso na Polónia. Não quer dizer que no futuro seja assim, mas nestes últimos dias não houve uma explosão assustadora do aumento do número de casos”, disse Rui Tato Marinho à agência Lusa, no final de uma reunião do Centro Europeu de Controlo e Prevenção das Doenças (ECDC, sigla em inglês).
O director do programa da Direcção-Geral da Saúde (DGS) adiantou que tem estado em contacto com os pediatras e os médicos de Medicina Geral e Familiar, não tendo sido detectado nenhum caso em Portugal.
“Estamos preparados para que, a qualquer altura, isso possa acontecer”, disse, acrescentando: “Já sabemos como são estes casos típicos de hepatite em crianças”.
Segundo Rui Tato Marinho, “são crianças muito pequeninas de três, quatro anos, em que 10% dos casos evoluíram para hepatite fulminante, necessitando de transplante”.
O especialista explicou que o transplante nestes casos é de dador vivo em que o pai, a mãe ou um amigo mais velho pode dar “um bocadinho do fígado”.
Em Portugal, existe uma equipa de transplantes pediátricos, em Coimbra, que está preparada para a eventualidade de surgir algum caso no país.
OMS e ECDC estão a trabalhar na detecção de ponto comum nos casos
Sobre a reunião do ECDC, o responsável adiantou que a primeira parte foi sobre a informação que já existe, com o apoio de um documento inglês “muito importante”, com cerca de 40 páginas, que tem a descrição das idades, dos exames que se fizeram e das hipóteses de trabalho em relação à causa da doença.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o ECDC estão “a trabalhar dia e noite afincadamente, para conseguir detectar qual é o ponto comum nestes casos, o que é que se está a passar e saber qual é o agente, se é um vírus ou não”.
“Há a hipótese de trabalho de ser um adenovírus, que é um vírus já nosso conhecido, mas que se tenha modificado e tornado mais agressivo”, salientou.
A segunda parte foi, contou, para organizar “estratégias de classificação dos casos”, saber o que têm em comum, e as análises que estão a fazer em laboratório para tentar identificar o agente que está a causar a hepatite (inflamação do fígado).
“Foi mais a estratégia do que se vai passar para a frente. Colocar os parceiros europeus todos em contacto para se houver alguma coisa de maior dimensão estarmos preparados”, contou Rui Tato Marinho.
A comissária europeia da Saúde, Stella Kyriakides, admitiu também esta quarta-feira, em Bruxelas, que o surto de casos de hepatite aguda de origem desconhecida em crianças “é uma situação preocupante”, que “a União Europeia está a seguir de muito perto”.
No domingo, a OMS anunciou que uma criança morreu vítima do misterioso surto de doença hepática que está a afectar crianças na Europa e nos Estados Unidos, sem revelar em que país ocorreu a morte.
O surto “de origem desconhecido”, que foi anunciado pela OMS a 15 de abril, causa inflamação do fígado e “em muitos casos”, sintomas gastrointestinais como dores abdominais, diarreia e vómitos, e elevação das enzimas do fígado.