Senhor, falta cumprir-se o Baixo Alentejo

Cada vez mais, os nossos jovens fogem do Baixo Alentejo, não porque querem, mas porque a vida assim o exige, não temos muitos postos de trabalho para mão-de-obra qualificada porque a indústria não se estabelece no distrito de Beja por falta de acessibilidades.

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LUSA/JOSE SENA GOULAO

No dia 25 de Abril terminou a 38.ª edição da Ovibeja, “…uma feira agrícola. Da produção. Mas também da transformação, dos serviços, uma mostra institucional, um centro de negócios, de apresentação e discussão dos temas da actualidade. É uma feira das pessoas. Construída e vivida por quem nela participa. A Ovibeja é uma feira diferente. Sem preconceitos. De todas as idades. Da diversidade do campo. Das diferentes expressões da cidade. Ergue-se com respeito à mais pura ruralidade, mas constrói-se de modernidade, numa paleta de todas as cores. A Ovibeja é a construção do sonho. ‘Todo o Alentejo deste Mundo!'”

Esta edição da Ovibeja atraiu milhares de pessoas, com concertos marcantes e com a liberdade de não haver a obrigatoriedade do uso de máscaras. Muitas foram as visitas dos líderes dos diversos partidos, desde o PCP ao Chega, e a maioria fez-se representar. Porém, António Costa não se deslocou até à feira e, no meu ponto de vista, demonstra um descaso pelo Baixo Alentejo, não só por não ter ido à Ovibeja, mas por todos os acontecimentos.

O Baixo Alentejo é o parente pobre do país, temos uma capital de distrito sem acessibilidades, não sabemos o que é ter uma auto-estrada até Beja, nem o que é ter uma linha electrificada de comboios, mas temos um aeroporto. Porém, praticamente não funciona e também ninguém está verdadeiramente importado com o facto de ele funcionar ou não, até já se pensa noutros locais para se construir mais um aeroporto. Não nos podemos esquecer que nós, baixo-alentejanos, somos tão portugueses como todos os cidadãos do nosso país, mas somos sempre tratados de forma diferente.

Nas eleições legislativas voltamos a eleger dois deputados do PS e um da CDU. Já nem coloco em questão o facto de o distrito de Beja ser o maior distrito de Portugal, mas, devido à baixa densidade populacional, só atribui três mandatos. Mas os deputados que elegemos, apesar, de serem só três, não travam uma luta digna pelo meu distrito, pela minha gente. Quando é que vamos começar a debater como é que podemos proporcionar as mesmas oportunidades a quem nasce no distrito de Beja e a quem nasce no distrito de Lisboa? Quando é que o Governo vai olhar para o distrito de Beja e perceber que é um diamante por lapidar? Quando é que iremos ter acessibilidades dignas para uma capital de distrito?

O distrito de Beja está no mapa por diversos motivos, um deles é pela Ovibeja, que atrai pessoas de todo o país. Temos os nossos vinhos, que são reconhecidos pela sua excelência, não só a nível nacional como internacional, somos um destino que cada vez atrai mais turistas para terem experiências que para nós fazem parte do dia-a-dia, mas, mesmo assim, não há uma atenção real para este distrito esquecido e abandonado pelo poder central.

Cada vez mais, os nossos jovens fogem do Baixo Alentejo, não porque querem, mas porque a vida assim o exige, não temos muitos postos de trabalho para mão-de-obra qualificada porque a indústria não se estabelece no distrito de Beja por falta de acessibilidades. Em termos de cursos, apesar da existência do Instituto Politécnico de Beja, que forma excelentes profissionais e que é bastante reconhecido pela sua excelência no ensino, não consegue comportar todos os cursos que os nossos jovens podem querer seguir e os mesmos são obrigados a ir estudar para fora, estando longe da sua terra, da sua família e dos seus amigos. Este é o meu caso: quis seguir o curso de Direito e para isso tive de deixar para trás a minha terra e a minha gente, apesar de tentar sempre estar presente no meu Alentejo, nem sempre o consigo fazer e na mesma situação em que me encontro estão imensos jovens.

O Baixo Alentejo não pode ser um verbo de encher para o Governo, não pode ser só para ser visitado na Ovibeja e fazer-se promessas que o tempo acabará por levar. O Baixo Alentejo tem de ser reconhecido e nele tem de ser feito investimento. Não nos podemos esquecer que o campo é que alimenta a cidade e, como tal, não pode haver filhos e enteados no que se refere a investimentos.

É importante reflectir sobre o contexto em que nos encontramos, num Baixo Alentejo cada vez mais envelhecido, mais desertificado, com menos oportunidades, com cada vez menos jovens agricultores, com a taxa de desemprego a aumentar. É preciso que o Governo olhe para nós, que, apesar de poucos, somos tão portugueses como os portugueses de outras regiões.

Fernando Pessoa escreveu que se faltava cumprir Portugal. Hoje afirmo que falta cumprir-se o Baixo Alentejo.

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