Suu Kyi condenada a mais cinco anos de prisão por corrupção
É a terceira vez que a líder deposta pelo golpe de Fevereiro de 2021 na Birmânia é condenada por um tribunal militar. Número total de anos de prisão sobe para 11, mas ainda há mais de dez acusações por julgar.
Deposta em Fevereiro do ano passado, após um golpe que derrubou o seu Governo, dissolveu o Parlamento e deixou o poder político da Birmânia nas mãos (e nas armas) de uma Junta Militar, Aung San Suu Kyi continua a coleccionar condenações em sessões de julgamento secretas.
Fontes próximas do processo informaram nesta quarta-feira a Reuters e a Associated Press que um tribunal militar, reunido na capital, Naypyitaw, a condenou a cinco anos de prisão por corrupção.
É já a terceira condenação de Suu Kyi, depois de também ter sido considerada culpada, em Janeiro, pela importação e posse ilegal de seis rádios walkie-talkie para a Birmânia, e, em Dezembro, por ter violado a Lei sobre Desastres Naturais, no âmbito das restrições impostas para combater a pandemia de covid-19.
Somando todas as condenações, são já 11 os anos que a vencedora do Prémio Nobel da Paz de 1991 terá de cumprir na prisão, sendo que já se encontra em prisão domiciliária, em parte incerta, desde Fevereiro de 2021.
E as condenações podem não ficar por aqui. Suu Kyi enfrenta outras dez acusações relacionadas com crimes de corrupção e com outros delitos, incluindo fraude eleitoral. Caso seja condenada à pena máxima em todas essas acusações, a líder política birmanesa, de 76 anos de idade, arrisca-se a uma sentença de mais de 190 anos de prisão.
Suu Kyi, a oposição e vários grupos de direitos humanos garantem, no entanto, que todas as condenações são “fabricadas” e que têm “motivações políticas”. Dizem ainda que o tribunal responsável por decidir os casos actua a mando da Junta que governa o país com mão-de-ferro.
No caso concreto da condenação anunciada nesta quarta-feira, Suu Kyi era acusada de ter recebido 600 mil dólares (cerca de 566 mil euros) em subornos, em ouro e em dinheiro, por parte de Phyo Min Thein, antigo ministro-chefe da cidade de Rangum.
“Os dias de Aung San Suu Kyi como uma mulher livre chegaram efectivamente ao fim. A Junta e os ‘tribunais-canguru’ estão em sintonia para aquilo que, em última instância, será o equivalente a uma prisão perpétua, dada a sua idade avançada”, reagiu a Human Rights Watch, através do vice-director para a Ásia, Phil Robertson.
“Destruir a democracia popular na Birmânia também significa verem-se livres de Aung San Suu Kyi, e a Junta não está a dar hipóteses”, considera Robertson, através de uma série de mensagens publicadas no Twitter.
Dentro da Liga Nacional para a Democracia (NLD), o partido de Suu Kyi, desvaloriza-se, porém, o número de anos de prisão que a líder terá de cumprir, porque ainda há esperança de que a Junta não dure muito mais tempo.
“Não reconhecemos as decisões, a legislação ou o judiciário da Junta terrorista. Não me importa quantos anos [de prisão] eles dão de pena; seja um ano, dois anos, ou quanto tempo quiserem. Isto não vai durar”, assegura Nay Phone Latt, membro do NLD, citado pela Reuters.
Em Fevereiro do ano passado, e justificando a sua acção com uma suposta fraude eleitoral que permitiu ao NLD conquistar a maioria absoluta nas eleições de Novembro de 2020, o Exército birmanês tomou conta do território, interrompendo um processo de transição democrática que durava há cerca de dez anos e que pretendia pôr um ponto final na ditadura militar (1962-2011).
Influenciado pela grave crise económica e social que o país atravessa, o dia-a-dia da Birmânia tem sido, no entanto, marcado por manifestações e protestos quase diários, em várias cidades, contra a Junta liderada pelo general Min Aung Hlaind.
Milhares de opositores foram detidos e, segundo a Associação de Assistência aos Prisioneiros Políticos – uma organização local –, a repressão violenta dos protestos já tirou a vida a quase 1800 pessoas. O Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas admitiu mesmo que as autoridades militares terão cometido crimes contra a humanidade.