Quer se seja fã de carros a gasóleo de alta cilindrada ou de eléctricos silenciosos, é possível gostar da nova berlina de luxo da BMW. Afinal, com o novo série 7, a marca alemã quer mostrar que no segmento de carros de luxo não há compromissos e, pela primeira vez, o navio almirante da marca bávara, com a inconfundível grelha em forma de rim e faróis de cristal, será lançado com motorizações Diesel, híbridas plug-in a gasolina e 100% eléctricas. A novidade chega a Portugal em Dezembro (a partir de 146.850 euros) e a marca promete que o design e a experiência são iguais; só muda o motor.
“A nova geração do série 7 mostra que é possível oferecer um motor completamente electrificado e um motor a combustão para o mesmo modelo. Optámos por este formato porque sabemos que a adopção da electrificação varia em diferentes países”, defendeu Pieter Nota, membro do Conselho de Administração da BMW AG e responsável pela área de vendas, numa conversa com jornalistas em que o PÚBLICO participou durante a apresentação dos veículos em Munique, Alemanha.
Na Europa, a nova berlina será lançada na versão 100% eléctrica, como parte dos esforços da marca em entregar dois milhões de veículos eléctricos nos próximos três anos. O i7 xDrive60 será alimentado por dois motores que fornecem uma potência combinada de 400 kW (544cv) capazes de acelerar de 0 a 100 km/h em 4,7 segundos e atingir os 240 km/h. Os motores são alimentados por uma bateria com uma capacidade útil de 101,7 kWh, arrumada na base e descrita como “extremamente fina”, que permite percorrer até 600 quilómetros com uma única carga. Relevante para administrar o quotidiano: em estações de carregamento rápido, a bateria vai de 10% a 80% em 34 minutos.
A fabricante de Munique sempre usou o seu série 7, lançado originalmente em 1977, para destacar as suas inovações tecnológicas. Nos últimos anos, a marca tem lançado vários modelos eléctricos na gama i (a secção da BMW dedicada à mobilidade sustentável), incluindo o recente iX, mas até agora tinha mantido o segmento dos executivos afastado desse mundo. Agora, a primeira versão verde do série 7 é uma resposta directa da BMW à berlina eléctrica de luxo Mercedes-EQ EQS e ao Porsche Taycan.
“No Norte da Europa, há uma grande procura por modelos eléctricos a que temos de dar resposta”, justificou Pieter Nota, identificando a Alemanha e o Reino Unido como os principais mercados no Velho Continente. “Em geral, a procura por modelos completamente electrificados aumentou muito nos últimos anos, mesmo antes da pandemia, mas isto depende muito da oferta de estações de carregamento em diferentes países”, explicou. “Nós queremos que os nossos clientes tenham todos a mesma experiência”. E acrescenta: “Se há algo que situação geopolítica actual mostra, é que depender de uma só tecnologia não é a abordagem mais inteligente.”
Estatuto, privacidade e conforto igual
Todas as variantes do série 7 serão fabricados na fábrica da BMW em Dingolfing, no estado alemão da Baviera, com uma forte componente de matérias-primas recicladas. O carro recorre a materiais leves e resistentes como o plástico, alumínio e aço para ganhar pontos juntos dos consumidores e reguladores: automóveis mais leves consomem menos combustível e, se forem eléctricos, conseguem circular mais quilómetros entre carregamentos.
Independentemente do motor, com um série 7, diz a marca, vai-se conduzir uma máquina silenciosa e rápida, com um exterior imponente que alude a um “monólito” como se o carro tivesse sido forjado a partir de uma só pedra. O interior do habitáculo é aconchegante, com bancos em caxemira ou cabedal (há uma opção vegana) e inclui um ecrã de 31,3'’ que se desdobra para sessões de cinema nos bancos traseiros — quando está a ser usado, o condutor usa uma câmara para ver o que se passa na traseira do veículo. Fora da China, o conteúdo televisivo vem de uma parceria com a norte-americana Amazon; em Pequim, a oferta é da Huawei. “Temos uma solução para todos os mercados”, sublinhou Pieter Nota, várias vezes, durante a apresentação do modelo em Munique.
O processo de dobrar e desdobrar o ecrã cinemático é acompanhado por música do compositor Hans Zimmer (vencedor de dois Óscares: melhor música por Dune - Duna, este ano; melhor banda sonora pela animação O Rei Leão, em 1995), com quem a BMW tem uma parceria de longa data e que também assina os restantes sons que marcam o ambiente do habitáculo.
Na frente do habitáculo, o condutor tem acesso a dois ecrãs (12,3'’ e 14,9'’ para o painel de instrumentos, mapas e entretenimento), bem como uma nova “barra de interacção” que atravessa o painel de instrumentos e as laterais da porta e permite controlar o ar condicionado e a temperatura dos bancos. O carro responde a comandos por voz, toque e gestos. Quem segue atrás, também pode controlar a temperatura, janelas e entretenimento através de ecrãs de 5,5'’ em cada porta.
“Não queríamos pôr a ênfase só em conduzir, mas em ser-se conduzido”, frisou o designer croata Domagoj Dukec que está à frente da equipa de design da BMW desde Abril de 2019. “O exterior do carro deve reflectir estatuto e confiança; o interior deve garantir privacidade e conforto.”
O novo série 7 também oferece funcionalidades autónomas de nível 2 o que quer dizer que o carro mantém a velocidade, permanece numa faixa sem se desviar e desacelera para evitar obstáculos.
50% eléctricos até 2030
Os novos série 7 assentam todos na plataforma modular CLAR, concebida para acomodar uma variedade de motorizações. É um caminho diferente da concorrente Mercedes-Benz que optou por criar uma plataforma própria para o seu topo de gama eléctrico. Mas o grupo BMW justifica a sua opção com o facto de vender carros em mais de 140 mercados, muitos dos quais estão longe de adoptar uma condução eléctrica em massa.
Isto não quer dizer que a marca não queira expandir a sua gama eléctrica: durante a apresentação, a 19 de Abril, Pieter Nota confirmou que há uma versão “mais poderosa” do i7 a ser preparada para 2023.
Embora a popularidade dos veículos eléctricos seja um fenómeno relativamente novo, a BMW está a trabalhar na tecnologia desde a década de 1970. O 1602 Electric foi a primeira proposta a chegar a público, apresentada em 1972 por altura dos Jogos Olímpicos de Munique. Na altura, porém, o objectivo era apenas mostrar que a tecnologia existia. Foi o i3, em 2011, que mostrou que os carros eléctricos eram uma opção para ser levada a sério.
Até 2030, a BMW espera que os veículos eléctricos representem 50% das suas vendas globais. Para Nota, não é uma abordagem modesta: “É preciso existir um investimento público em estações de carregamento para que a tecnologia da condução eléctrica expanda”, salientou. Até lá, insiste, a BMW “não acredita no compromisso” e quer mostrar que no mercado de luxo é possível agradar a gregos e troianos.