As videochamadas podem afectar a criatividade? Este estudo diz-nos que sim

Um estudo publicado agora na revista científica Nature sugere que os trabalhos mais criativos beneficiam de reuniões presenciais. O contacto virtual, nas experiências realizadas, produziu menor número de ideias e menos criativas. O trabalho inclui dados de Portugal.

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Os participantes deste estudo têm menos ideias e estas são menos criativas quando reúnem por videochamada Paulo Pimenta

As videochamadas reduzem a produção de ideias criativas, comparativamente com as reuniões presenciais. Os dados agora publicados na revista científica Nature sugerem que as interacções virtuais podem ter um custo cognitivo na criação de ideias em grupo.

Desde o início da pandemia que o teletrabalho se tornou parte do nosso léxico. Desde a obrigatoriedade à recomendação, e até, em Fevereiro último, ao fim da orientação para promover o trabalho remoto, muitos empregadores passaram a favorecer regimes híbridos ou totais de trabalho a partir de casa. No entanto, os trabalhos mais criativos podem não ter os melhores resultados a partir de casa ou de reuniões por videochamada. Pelo menos, de acordo com o estudo liderado por Melanie Brucks e Jonathan Levav, investigadores das universidades norte-americanas de Columbia e Stanford, respectivamente.

Os dois investigadores, num estudo realizado com mais de duas mil pessoas, concluíram através de duas experiências que, apesar de os outros trabalhos não serem afectados, a criatividade beneficia do contacto presencial e em grupo.

Este trabalho procurou avaliar a quantidade e a criatividade das ideias criadas por duas pessoas em formato presencial ou virtual, bem como a capacidade de decidir qual a ideia mais criativa. Se neste último parâmetro as diferenças não são significativas, nos primeiros dois existe um menor número de ideias quando o trabalho é virtual, sendo estas também menos criativas.

Melhor decisão, piores ideias

De forma a aferir como a criatividade pode ser alterada presencialmente ou em videochamada, os investigadores dividiram a experiência em duas fases. Primeiro, numa fase laboratorial em que 602 pessoas formaram pares aleatoriamente e, posteriormente, foram desafiadas a dar usos criativos a um produto. Cada par tinha cinco minutos para criar ideias – tendo depois um minuto para seleccionar a sua ideia mais criativa. Metade da amostra reuniu-se presencialmente, e a outra metade virtualmente.

Os resultados iniciais deram conta de que os pares que se reuniram por videoconferência tiveram significativamente menos ideias e também ideias menos criativas.

Num segundo momento, na fase de campo, foram recrutados 1490 engenheiros em cinco países, incluindo em Portugal. Nesta fase, os participantes também se reuniram em pares formados aleatoriamente e foram desafiados a criar ideias para produtos, durante uma hora. Tal como na primeira experiência, os investigadores notaram que presencialmente estes pares produziram mais ideias e ideias mais criativas, comparativamente com os pares virtuais.

Em ambas as fases, os participantes tiveram de seleccionar ainda a ideia que consideravam mais criativa. Apesar de ser notada uma tomada de decisão ligeiramente melhor dos pares em videochamada na primeira experiência, não houve diferenças significativas de eficácia entre os dois grupos.

Em Portugal, os dados referem-se a 105 pares estudados, que reflectiram uma diferença menos significativa no número de ideias criadas, quando comparado com os outros países estudados. No caso português, a disparidade é mesmo a menor neste campo. Por exemplo, enquanto no caso português a diferença passa de 7,47 ideias criadas em média para 8,12 em reuniões presenciais, no caso da Finlândia os números saltam de 8,56 para 10,19 – ambos com melhores resultados no contacto presencial.

À imagem de outros artigos já publicados anteriormente, Brucks e Levav argumentam que existe um excesso de olhar directo para o interlocutor, o que não é natural, de acordo com o artigo de investigação agora publicado. Além deste factor, acresce ainda uma menor fluidez no diálogo, contando-se menos interrupções ou participações entre discursos, ou seja, os participantes falam mais tempo consecutivo e com menos intromissões o que, de acordo com este estudo, não fomenta a criatividade através da discussão.

Em Março de 2021, um estudo do Observatório da Sociedade Portuguesa, da Universidade Católica, destacava que a maioria dos portugueses em teletrabalho pretendia manter-se a trabalhar a partir de casa no futuro.

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