O perigo radioactivo ao pé de Dnipro

Uma antiga fábrica de purificação de urânio para fins militares nos tempos da União Soviética tem mais resíduos com radioactividade que o reactor 4 de Tchernobil, e tem sido esquecida. É um risco em tempo de guerra.

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Parte da velha estrutura de transporte do urânio na Fábrica Pridniprovskii Bellona

Dnipro é uma cidade que está a ficar na linha da frente, à medida que a ofensiva russa se vai concentrando no Leste da Ucrânia. E a pouca distância desta cidade, a cerca de 35 quilómetros, fica a antiga Fábrica de Produtos químicos Pridniprovskii – o local onde nos tempos da União Soviética chegou a ser produzido 65% do urânio usado nas armas nucleares soviéticas. Agora, é basicamente um baldio radioactivo, onde estão 40 milhões de toneladas de resíduos radioactivos.

Um relatório da organização ambientalista nórdica Bellona sublinhava em Março que isto é mais de 15 vezes a quantidade de material radioactivo que ainda está no reactor número 4 da central de Tchernobil, enterrado debaixo de arcos de aço que devem conter a radiação durante pelo menos 100 anos, instalados em 2016.

“O principal problema da Fábrica de Produtos Químicos Pridniprovskii [na cidade de Kamianske] é que basicamente foi esquecida depois do desmantelamento da União Soviética. Tanta atenção foi concentrada em temas como Tchernobil, ou as questões das armas nucleares, que este local praticamente foi esquecido”, disse ao PÚBLICO uma fonte familiarizada com as condições do local.

O espaço da fábrica consiste em cinco locais enormes, maiores que campos de futebol, que são áreas de deposição de resíduos radioactivos, resultantes da purificação do minério de urânio. “Faltam cercas em torno do perímetro, o que permite que as pessoas entrem e saiam daquela área e fiquem irradiadas… ou saiam dali com materiais irradiados, o que representa um risco de proliferação”, explicou a fonte do PÚBLICO.

A Fábrica de Produtos químicos Pridniprovskii é uma demonstração dos riscos industriais e nucleares que existem na Ucrânia, para lá das centrais onde se produz energia nuclear. Se ali caísse um míssil, por exemplo, as represas ao longo das margens do rio Dniepre onde se acumulam os materiais radioactivos poderiam rebentar, e o risco de contaminação do rio com lamas radioactivas seria enorme, além da libertação de radioactividade para a atmosfera.