Azul, o jornalismo sintonizado com o presente
As palavras de ordem dos jovens que continuam a manifestar-se contra a crise climática são poderosas, perturbadoras e, como tal, justificam uma profunda reflexão. A geração que abraça a causa do clima como outrora se abraçaram as ideologias da igualdade, da liberdade ou do fim da exploração do homem pelo homem desenvolve uma atitude radical (ou revolucionária) contra o capitalismo que toca a própria substância da democracia liberal. Antes de os censurar, porém, convém procurar a causa do seu radicalismo. Ela está à vista na inércia com que os governos têm encarado o combate à crise climática.
Os mais jovens que se manifestam acabam assim por ser mais conscientes e empenhados na construção do futuro do que os incumbentes dos poderes estabelecidos. Os governos actuam ou prometem actuar, as empresas envolvem-se em sérios planos para obter a sustentabilidade, as pessoas estão cada vez mais atentas à reciclagem e ao consumo sustentável, mas são os jovens que estão na vanguarda do grande debate político do nosso tempo. A guerra na Ucrânia alterou as prioridades, mas basta ver a representação que partidos ecologistas passaram a ter em países como a Alemanha ou a Holanda para darmos conta de que esse debate é inadiável. A quantidade de pessoas envolvidas no associativismo ambiental, na maioria jovens, é um claro sintoma dessa realidade.
As palavras ou expressões da política mudam com as eras, e as palavras do presente estão já consagradas: aquecimento global, consumo sustentável, economia circular, ozono ou vegetarianismo, entre muitas outras. As ameaças globais também: fenómenos climáticos extremos, seca, incêndios florestais, contaminação da cadeia alimentar, destruição da biodiversidade. São palavras e factos que sustentam ideias e projectam ideologias que, como sempre, ora entusiasmam, ora assustam. Por implicarem novos programas e novos desafios, são muitas vezes considerados assuntos que evitamos encarar.
Ao lançarmos o Azul no Dia da Terra com o apoio de parceiros empenhados na questão da ciência e do ambiente, o nosso propósito é colocar ainda mais a agenda da crise climática no centro das nossas prioridades. Um jornalismo atento aos interesses das pessoas e do país não podia continuar a tratar da actualidade do ambiente como um tema esporádico ou secundário. A crise climática é hoje um assunto tão importante como a política ou a economia — até porque as cruza por completo. O mundo muda e é um dever do PÚBLICO para com os seus leitores acompanhar essa mudança. O Azul é, por isso, um esforço para sintonizar o nosso jornalismo com o nosso mundo. Seja qual for a perspectiva sobre as ameaças que enfrentamos, num ponto a realidade é incontornável: elas estão aí à vista de todos. E precisam de respostas.