Pussy Riot, as activistas perseguidas por Vladimir Putin, actuam em Junho no Porto e em Lisboa
Grupo de artistas e activistas russas regressa a Portugal para actuar na Casa da Música e no Capitólio, a 8 e 9 de Junho, respectivamente.
- Em directo. Siga os últimos desenvolvimentos sobre a guerra na Ucrânia
- Guia visual: mapas, vídeos e imagens que explicam a guerra
- Especial: Guerra na Ucrânia
São, desde há vários anos, das opositoras mais ferozes e inabaláveis do regime de Vladimir Putin, encabeçando a luta pelos direitos das mulheres e das comunidades LGBTI na Rússia. Depois da passagem pelo festival Paredes de Coura em 2018, as Pussy Riot regressam a Portugal para dois concertos integrados na tour europeia que arranca este ano: chegam a 8 de Junho à Casa da Música, no Porto, e um dia depois ao Teatro Capitólio, em Lisboa, numa organização da promotora Sounds Good.
Nascidas em 2011 como um ramo do colectivo anarco-artístico Voïna e influenciadas pelo movimento musical feminista riot grrrl, as Pussy Riot deram-se a conhecer ao mundo – e tornaram-se um assunto de Estado – em 2012, quando decidiram ocupar o altar da Catedral de Cristo Salvador, em Moscovo, munidas de balaclavas coloridas, danças frenéticas de punho esquerdo bem erguido e uma canção de protesto contra o regime de Vladimir Putin e a sua problemática aliança com a Igreja Ortodoxa russa. Este manifesto-performance, protagonizado por três dos principais membros do colectivo – Nadya Tolokonnikov, Maria Alyokhina e Yekaterina Samutsevich – ficou conhecido como “oração punk” e resultou na detenção das artistas por “hooliganismo e incitamento ao ódio religioso”.
Tolokonnikov e Alyokhina passaram 21 meses na prisão. Foram libertadas em 2013 após o parlamento russo ter aprovado uma amnistia, na sequência da pressão junto do Kremlin de vários grupos de direitos humanos, num caso que explodiu e viralizou nos media internacionais. Em entrevista ao Ípsilon em 2018, Nadya Tolokonnikov, a então porta-voz do grupo, confessou ter pesadelos “duas a três vezes por semana” por causa do longo período em que esteve presa. “Tenho medo de muitas coisas. Estive em negação em relação aos meus medos durante algum tempo depois da prisão, mas percebi que tenho de enfrentá-los”, partilhou. “Sempre que vejo um polícia na rua penso que devia ter trazido a minha escova de dentes porque se calhar vou acabar outra vez na prisão.”
Apesar do trauma e dos medos, as Pussy Riot não abrandaram: em 2014 actuaram nos Jogos Olímpicos de Inverno, em Sochi, onde foram atacadas por seguranças com bastões e gás pimenta, e, em 2018, levaram a cabo uma invasão de campo no final do Mundial de Futebol, em Moscovo.
Em Março, numa entrevista ao jornal inglês The Guardian, Nadya Tolokonnikov admitiu estar “em pânico” com a guerra entre a Rússia e a Ucrânia. “Ando a chorar todos os dias. Não há qualquer lógica nisto (…) É um desastre que vai acabar com milhares de vidas.” A activista, que num concerto em Nova Iorque este ano disse em voz alta “que se lixe Putin, espero que morra em breve”, considera que a situação na Rússia, inclusive a postura do Kremlin em relação ao conflito, só poderá mudar se “milhões de pessoas forem para a rua e se recusarem a sair até Putin sair [do poder]”. Contudo, assinala que isso é “extraordinariamente perigoso”.
“Putin é louco, pelo que poderá abrir fogo sobre o seu próprio povo. Percebo perfeitamente porque é que as pessoas ainda não estão todas na rua”, afirmou, acrescentando que o presidente russo “assinou uma lei que dá 15 anos de prisão a quem discutir a guerra na Ucrânia”. Nadya Tolokonnikov deixou ainda críticas à “complacência” e à “hipocrisia” da comunidade internacional. “As pessoas declaram que não apoiam as políticas de Putin, nem a aniquilação dos seus opositores políticos nem as guerras que ele começou, mas, ao mesmo tempo, continuam a fazer negócios com ele.” Pouco depois do início da guerra, Tolokonnikov e membros da comunidade das criptomoedas criaram um fundo de apoio à Ucrânia com recurso a um NFT da bandeira ucraniana. Em cinco dias, angariaram mais de sete milhões de dólares.
Actualmente lideradas por Maria Alyokhina, que em 2016 protagonizou uma peça de teatro do Belarus Free Theatre sobre a história de três artistas que se tornam prisioneiros políticos na Rússia, as Pussy Riot continuam a ser um colectivo rotativo de músicas, artistas e activistas, não se sabendo ainda qual a formação que irá passar por Portugal. Os bilhetes já estão à venda e custam 22,50€.