Descoberto um novo tipo de explosão estelar

Chama-se micronova e é uma explosão que acontece nas anãs-brancas, estrelas moribundas.

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Imagem artística de uma micronova M. Kornmesser/L. Calçada/ESO

E bum: uma equipa internacional de cientistas descobriu um novo tipo de explosão estelar – chama-se “micronova” e ocorre na superfície de estrelas anãs-brancas. Mas relativizemos o nome atribuído. É verdade que é um fenómeno pequeno à escala do Universo, mas para a nossa é astronómico. Uma micronova pode queimar cerca de 3500 milhões de Pirâmides de Gizé de material estelar em apenas algumas horas.

Tudo começou com a análise de dados do satélite TESS (sigla em inglês para Transiting Exoplanet Survey Satellite, ou Satélite para Levantamento de Exoplanetas em Trânsito) da NASA. Ao estudar essas informações, identificaram-se misteriosas micro-explosões. “Ao analisarmos os dados astronómicos recolhidos pelo TESS, descobrimos algo invulgar: um clarão de luz visível brilhante com a duração de apenas algumas horas”, descreve agora Nathalie Degenaar, cientista na Universidade de Amesterdão. “Ao investigarmos o fenómeno mais atentamente, descobrimos outros sinais semelhantes.”

A equipa de Nathalie Degenaar acabaria por descobrir três micronovas. Duas delas foram identificadas em anãs-brancas já conhecidas e a outra precisou de mais observações para se ter a certeza de que estava a acontecer numa anã-branca. Estas são estrelas moribundas com uma massa comparável à do nosso Sol, mas mais pequenas como a Terra, ou seja, são muito densas. A recolha desses dados foi feita com o instrumento X-shooter, que está montado no Very Large Telescope do Observatório Europeu do Sul (ESO).

Agora, essas explosões são descritas num artigo científico na revista científica Nature. Um pequeno artigo sobre elas também foi aceite para publicação na Monthly Notices of the Royal Astronomical Society. E o que se definiu sobre elas nesses artigos? As micronovas são fenómenos pequenos à escala astronómica. Mas, para percebermos à nossa escala o que acontece na anã-branca, a equipa faz uma comparação: uma micronova pode queimar cerca de 20.000 biliões de quilogramas de matéria, ou como quem diz, cerca de 3500 milhões de Pirâmides de Gizé.

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Imagem artística de uma micronova vista de perto Mark A. Garlick

As micronovas são menos energéticas do que as explosões estelares chamadas “novas”. Estas últimas já são conhecidas há décadas. Estes dois tipos de explosões acontecem em anãs-brancas.

Vejamos então o que acontece numa anã-branca. Num sistema binário, essa estrela pode tirar material – sobretudo hidrogénio – à estrela que a acompanha. Quando o hidrogénio chega à superfície da anã-branca, os seus átomos vão fundir-se em hélio de forma explosiva. Se a explosão for uma nova, ocorre em toda a superfície da estrela e esta pode ficar a brilhar intensamente várias semanas. Embora sejam semelhantes às novas, as micronovas são mais pequenas e só duram algumas horas. Num comunicado do ESO sobre o trabalho, acrescenta-se que estas explosões mais pequenas acontecem em algumas anãs-brancas com campos magnéticos fortes, onde o material é encaminhado em direcção aos pólos magnéticos da estrela.

No mesmo comunicado, Paul Groot também indica que esta foi a primeira vez que se viu que a fusão do hidrogénio pode acontecer de forma localizada e não apenas em toda a superfície. “O hidrogénio fica contido na base dos pólos magnéticos de algumas anãs-brancas, de tal maneira que a fusão ocorre apenas nesses pólos magnéticos”, esclarece o astrónomo da Universidade de Radboud, nos Países Baixos, que também participou na investigação. “Bombas de microfusão explodem com cerca de uma milionésima da força de uma explosão de nova, daí o nome de micronova.”

Difíceis de apanhar

E porque apenas agora foram detectadas? Nathalie Degenaar explica ao PÚBLICO que as micronovas são breves e raras, o que as torna difíceis de apanhar. “Em retrospectiva, podem ter sido vistas no passado, mas apenas agora compreendemos o que estamos a ver”, assinala a cientista. “Basicamente, tropeçámos neste fenómeno e apenas depois de as observarmos é que descobrimos o que poderiam ser.”

A equipa de Nathalie Degenaar e Paul Groot considera agora que este fenómeno desafia o que se sabia sobre as explosões nas estrelas. “Mostram-nos como o Universo é dinâmico. Estes fenómenos podem até ser bastante comuns, mas como são extremamente rápidos acabam por ser difíceis de apanhar no momento”, destaca, por sua vez, Simone Scaringi, astrónomo da Universidade de Durham, no Reino Unido, outro dos autores do trabalho.

Já novos trabalhos estão em andamento para se saber mais sobre as micronovas. Nathalie Degenaar conta-nos que se está a estudar o que as pode causar. Nos próximos tempos, espera-se também detectar mais destas explosões. Para isso, serão necessários rastreios de grande escala e análises de seguimento bem rápidas. Tudo está a postos para apanhar estas (por enquanto) esquivas explosões.

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