Pequenos grandes guerreiros

Actualmente, as crianças já não são consideradas como “simples” danos colaterais, sendo que o impacto da guerra na saúde infantil é dramático. De facto, os efeitos na saúde física, mental, comportamental e do desenvolvimento sobre as crianças são profundos e multissistémicos.

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REUTERS/Andreea Campeanu

Os efeitos agudos e crónicos dos conflitos armados na saúde e no bem-estar das crianças estão entre as maiores violações dos direitos humanos do século XXI.

Em alguns países do mundo, as crianças são inclusivamente forçadas a lutar na guerra. Estima-se que existam mais de 300 mil soldados em idade juvenil a lutar em todo o mundo. Por exemplo, no Uganda, a maioria dos soldados do Exército de Resistência do Senhor são menores.

Actualmente, as crianças já não são consideradas “simples” danos colaterais, sendo que o impacto da guerra na saúde infantil é dramático. De facto, os efeitos na saúde física, mental, comportamental e do desenvolvimento sobre as crianças são profundos e multissistémicos.

Para além dos efeitos físicos directos, as crianças são também afectadas indirectamente através do trauma, que poderá ter efeitos nefastos para toda a vida. Está comprovado que crianças afectadas por guerras têm uma prevalência aumentada de perturbações de stress pós-traumático, depressão, ansiedade e queixas comportamentais, que vão persistir mesmo após a cessação das hostilidades.

Outro dos efeitos marcantes diz respeito à destruição das infra-estruturas que permitem às crianças e jovens um normal desenvolvimento. Tradicionalmente espaços seguros para crianças como escolas e/ou espaços de recreio e lazer são largamente afectados por estes conflitos, bem como hospitais e centros de saúde. Algo que ilustra bem esta situação é o panorama no Afeganistão onde os ataques a escolas e centros de saúde aumentaram drasticamente em anos recentes, muitos deles levados a cabo deliberadamente sobre escolas. Tudo isto conduz a uma disrupção dos sistemas de saúde que resultam em falhas no acesso, por exemplo, a programas vacinais ou de vigilância como meios de prevenção primária de doenças importantes na infância.

Aqueles que habitam áreas mais rurais e que subsistem essencialmente da agricultura, aquando da sua destruição encontram-se em maior risco de fome, malnutrição aguda e crónica, com consequências ao nível metabólico, imune e do crescimento físico e cognitivo.

O número de refugiados em idade infantil tem atingido números recorde, sendo que as maiores taxas de mortalidade nestes grupos se verificam nas crianças abaixo dos cinco anos. É também neste grupo etário que se verifica um maior risco de exploração, tráfico e abusos sexuais no contexto de guerra. Assim, verifica-se um impacto profundo não só no que diz respeito a propagação de doenças infecto-contagiosas (onde se incluem as doenças de transmissão sexual), mas sobretudo ao nível da saúde mental. Para além destas, outras causas de morte incluem doenças como a disenteria, infecções respiratórias, o sarampo e a malária.

Segundo a Sociedade Americana de Pediatria, é fundamental que os profissionais de saúde estejam sensibilizados para os direitos das crianças afectadas e que estejam preparados para avaliar os efeitos físicos, mentais e comportamentais da guerra. Para além disto, recomendam que estes disponham de um treino adequado a situações de trauma com capacidade reconhecer sinais de depressão, ansiedade e perturbações comportamentais das crianças. Neste sentido, é fundamental o trabalho para uma maior proximidade cultural e linguística ao providenciar os cuidados de saúde. Muito importante ainda é a cooperação com os serviços sociais e da comunidade, nomeadamente com as escolas e as famílias no sentido de auxiliar a integração daqueles que sofreram as consequências devastadoras da guerra.

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