Um olhar desimplicado sobre um homem implicado: Salgueiro Maia
Decepcionante numa sala de cinema, talvez não fique mal num ecrã de televisão, meio mais propício a este tipo de lógica ilustrativa.
A palavra que o filme de Sérgio Graciano puxa para o título — “implicado” — pode ser devolvida em forma de pergunta: e o filme “implica-se” de algum modo na figura de Salgueiro Maia, certamente uma das personalidades mais admiráveis da história portuguesa moderna, e um dos seus poucos possíveis heróis sem pés de barro? Por outras palavras, tem Salgueiro Maia — o Implicado algum olhar a propor, ou a construir, sobre a sua personagem central para além da ilustração da sua acção pública e da recomposição de fragmentos da sua vida pessoal? É o problema central do filme (que, ao mesmo tempo, é a mais escorreita obra de cinema do seu autor): o Salgueiro Maia do princípio do filme é igual ao Salgueiro Maia do fim, e ambos não ficam mais próximos de um retrato da figura que não seja igual ao que qualquer português mediamente informado não tenha já sobre aquele homem. A menos que, desígnio respeitável mas frustrante, a ideia fosse chegar a uma ilustração animada de Salgueiro Maia, para o apresentar a um público — e existirá realmente esse público? — que saiba pouco ou nada sobre ele e sobre a história portuguesa recente.
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