O desastre maior do que o anunciado de Pécresse e Hidalgo

As candidatas dos dois partidos anteriormente dominantes na política francesa terminaram abaixo dos 5%: a conservadora Valérie Pécresse com 4,8% e a socialista Anne Hidalgo com 1,7%.

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A candidata conservadora Valérie Pécresse GONZALO FUENTES/Reuters

Um resultado eleitoral muito pior do que o esperado fez com que Valérie Pécresse não tivesse de lidar apenas com a descida vertiginosa do partido mas também com a perda de dinheiro – muito dinheiro.

Ao ficar abaixo do limiar dos 5%, a candidata não terá reembolso de despesas de campanha. Pécresse declarou, esta segunda-feira, ter uma dívida pessoal na ordem dos cinco milhões de euros, e pediu aos franceses “ajuda de urgência” para a “situação financeira crítica” da campanha.

Os Republicanos, o partido de Pécresse, contava com um reembolso de oito milhões de euros, dado aos partidos que passassem os 5% de votos. Ninguém imaginou que isso não acontecesse com esta candidatura: em Novembro, quando foi escolhida para ser a candidata do partido, afastando nomes com peso como Michel Barnier, Pécresse tinha cerca de 11% nas sondagens. E em Dezembro chegou aos 17%, ficando na altura acima de Le Pen, que contava então com 16% das intenções de voto, parecendo por momentos ter hipótese de chegar à segunda volta.

Seguiu-se uma queda vertiginosa nas sondagens e um resultado desastroso no dia da votação. A porta-voz da candidatura do partido Os Republicanos admitiu que o resultado “não foi uma grande derrota, [mas sim] uma enorme derrota”.

Nas eleições de 2017, François Fillon ficou em terceiro com 20%, apesar do estalar do que ficou conhecido como o “caso Penelope”: Fillion tinha contratado a sua mulher, Penelope, como assistente parlamentar entre 1998 e 2002.

No caso da candidata do Partido Socialista Anne Hidalgo, presidente da Câmara de Paris, sabia que o resultado iria ser muito baixo – já desde Janeiro que tinha de 2 a 3% nas intenções de voto. Mesmo assim o resultado de 1,8% foi um choque.

Na sede de campanha de Hidalgo, havia desapontamento, mesmo que tivesse havido indicações da ordem de magnitude do resultado. Alguns comparavam o falhanço da sua candidata com o de Pécresse, mais surpreendente.

Ainda assim, trata-se do mais baixo resultado do PS francês, que já tinha descido aos 6,3% de Benoît Hamon nas eleições de 2017.

Na sequência desse resultado, Hamon desapareceu dos radares políticos (entretanto deixou também o partido), notava o diário Le Monde. O destino de Hidalgo parecia incerto – a sua campanha garantia que o resultado nada tinha a ver com o seu cargo enquanto presidente da Câmara de Paris.

Do PS, vozes surgiram rapidamente a assegurar que o partido “certamente não está” morto, lembrando os vários eleitos locais, como assinalou Patrick Kanner, apontando ainda “um voto útil” de potenciais eleitores do PS no candidato de esquerda radical Jean-Luc Mélenchon.

Mas não demorou a que se ouvissem críticas: Ségolène Royal, antiga deputada e ministra (e candidata do PS que perdeu para Nicolas Sarkozy em 2007), falou de uma “responsabilidade pesada” das candidaturas de esquerda que deviam ter-se retirado e apoiado Mélenchon, que obteve 22%, pouco atrás dos 23,1% de Marine Le Pen.

O que acontecerá às carreiras de Pécresse e Hidalgo não é claro: respondendo a uma pergunta de um leitor, o director-adjunto do diário Le Monde Nicolas Chapuis apontava as baixas votações de ambas nos seus círculos eleitorais – Pécresse chefia a região de Île-de-France, onde obteve 6,9%, e Hidalgo a câmara da cidade de Paris, onde obteve apenas 2,17%. “Para ambas, o regresso às responsabilidades locais arrisca-se a ser complicado, com executivos que não lhes deverão facilitar a vida. No entanto, ambas têm grandes dossiers em mãos com os Jogos Olímpicos de Paris em 2024”, declarou Chapius.

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