Índice de preços alimentares da FAO dá um “salto gigantesco” e atinge novo recorde

O índice da agência das Nações Unidas para a alimentação e agricultura atingiu novo recorde de 32 anos, no primeiro mês de verdadeiro impacto da guerra da Ucrânia nos mercados internacionais de matérias-primas agrícolas.

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Cereais estão sob maior pressão DANIEL ROCHA

O índice de preços dos alimentos da Organização para a Alimentação e a Agricultura das Nações Unidas (FAO) atingiu em Março a média de 159,3 pontos, mais 12,6 % do que em Fevereiro, “quando já tinha atingido o seu nível mais alto desde a sua criação”. Como o índice nasceu em 1990 (e não em 1996 como erradamente o PÚBLICO tinha escrito anteriormente), o indicador está agora no seu valor mais alto dos seus 32 anos de existência.

É “um salto gigantesco”, afirma a FAO no seu comunicado desta quinta-feira, 8 de Abril, que reflecte “os novos máximos de sempre para os óleos vegetais, cereais e subíndices de carne, enquanto os do açúcar e produtos lácteos também aumentaram significativamente”. O índice alimentar da FAO resulta numa média de cinco índices de preços de bens alimentares (carne, lacticínios, cereais, óleos vegetais e açúcar) ponderados pela média das quotas de exportação mundial de cada um dos grupos no período de 2014-2016. “O último nível do índice”, contextualiza a FAO, “já era 33,6% mais elevado do que em Março de 2021”.

Embora a invasão da Ucrânia pela Rússia, e consequente guerra entre dois dos Estados mais importantes no fornecimento de trigo, milho, óleo de girassol e fertilizantes ao resto do mundo, tenha tido início a 24 de Fevereiro, foi no mês de Março que os mercados sentiram o verdadeiro impacto do conflito.

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“Os preços mundiais de matérias-primas alimentares deram “um salto significativo em Março para atingir os seus níveis mais elevados de sempre”, com a “guerra na região do Mar Negro” a ter um efeito de “choque através dos mercados de grãos básicos [cereais de grão utilizados na alimentação e ração animal] e óleos vegetais”, explica a FAO (sigla em inglês para Food and Agriculture Organization of the United Nations).

Assim, em Março, enquanto o índice referente aos cereais teve um crescimento de 17,1% (para 170,1 pontos) e o de óleos vegetais disparou 23,2% (para 46,9 pontos) em apenas um mês, os restantes sub-índices também progrediram, mas de forma menos acentuada. O referente ao açúcar avançou 6,7% (para 117,9 pontos), o da carne aumentou 4,8% (para 120 pontos) e o dos lacticínios progrediu 2,6% (para 145,2 pontos).

Cereais sob maior pressão

Ainda que previsível após a guerra ter começado, a “perda de exportações da região do Mar Negro exacerbou a já curta disponibilidade global de trigo”, nota a FAO, o que, a par de preocupações com a campanha nos EUA, levou a um aumento “acentuado”, de 19,7%, dos preços mundiais do trigo em Março.

Após uma subida de 20,4% em Março, os preços internacionais dos cereais de grão “marcaram um recorde, com os preços do milho, da cevada e do sorgo a atingirem os níveis mais elevados desde 1990”, desde que o índice da organização para a alimentação e agricultura existe. Num mês, face a Fevereiro último, o preço do milho nos mercados internacionais medido pela FAO subiu 19,1%, evidenciando a importância da Ucrânia no abastecimento mundial.

Mas o trigo e o milho não foram os únicos cereais que aumentaram de preço. O desempenho dos mercados de milho “influenciou outros grãos, com os preços do sorgo a aumentar 17,3%, enquanto que as incertezas de fornecimento adicionaram maior pressão nos mercados de cevada”, já sob tensão, levando a uma subida de 27,1% nos preços da cevada a partir de Fevereiro.

A única excepção – não despicienda para a importância que tem na alimentação de uma parte substancial da população mundial – foi o arroz, cujo índice de preços da FAO se manteve “pouco alterado em relação aos níveis de Fevereiro” e “10% abaixo do seu valor anual anterior”, de Março de 2021, quando o mundo estava a passar para o segundo ano de pandemia.

O efeito dominó

Nos óleos vegetais, a ausência da Ucrânia no fornecimento de óleo de girassol ao resto do mundo está a levar à procura de substitutos, estendendo a subida de preços a outras sementes e oleaginosas.

Disse esta manhã a FAO que “as cotações internacionais do óleo de girassol aumentaram substancialmente em Março, alimentadas pela redução da oferta para exportação” provocada pelo “conflito em curso na região do Mar Negro”.

A guerra na Ucrânia provocada pela Rússia, ao baixar a quantidade de óleo de girassol disponível no mercado mundial, impulsionou de seguida a “subida acentuada” dos “preços do óleo de palma, soja e colza”. Agravados, diz a organização, pelo facto de subsistir “escassez persistente de oferta nos principais países produtores” no caso do óleo de palma, e de haver nos mercados alguma preocupação em relação à capacidade de oferta para exportação na América do Sul, no caso da soja.

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