Rússia quer contornar sanções através do comércio com a “amiga” Índia
Serguei Lavrov foi a Nova Deli negociar um mecanismo de pagamento para as transações comerciais que não passe pelo euro ou pelo dólar.
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Primeiro a China, depois a Índia. Isolada a Ocidente, a diplomacia russa continuou esta sexta-feira a procurar aliados a Oriente com a visita do ministro dos Negócios Estrangeiros, Serguei Lavrov, a Nova Deli, onde se encontrou com o primeiro-ministro, Narendra Modi, e com o seu homólogo, Subrahmanyam Jaishankar.
“Somos amigos”, disse Lavrov numa conferência de imprensa conjunta após o encontro, agradecendo à Índia a posição neutra no conflito, por considerar o assunto “na sua totalidade, não apenas de uma das partes”.
“Sempre respeitámos o interesse do outro (...) e esse foi o sentido da nossa conversa que abrangeu todas as áreas bilaterais”, resumiu o ministro russo. Questionado sobre a possível mediação do primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, no conflito, Lavrov respondeu que não estava a par dessa possibilidade, mas realçou que a posição da Índia “não muda em decorrência de ditames ou ameaças”.
Além de discutir a situação na Ucrânia, o encontro entre Lavrov e Jaishankar também deve servir para que ambos os países desenvolvam mecanismos de pagamento eficazes para dar continuidade às suas transacções comerciais, apesar das sanções internacionais que pesam sobre a economia da Rússia.
A maior destas dificuldades prende-se com a impossibilidade de a maioria dos bancos russos aceder ao sistema de comunicação interbancária internacional SWIFT, bem como com o bloqueio da reserva cambial do Banco Central da Rússia, o que limita muito a sua actividade financeira.
Lavrov insistiu na possibilidade de continuar com um método de câmbio baseado em moedas nacionais, evitando assim a dependência de um sistema financeiro que “pode fechar a qualquer momento” e cujos criadores “podem roubar o dinheiro à noite”.
“Ficou absolutamente claro que as transacções serão realizadas por meio desse sistema, sem passar por dólares, euros e outras moedas que se revelaram pouco fiáveis”, disse o chefe da diplomacia russa.
Dessa forma, assegurou Lavrov, se a Índia quiser comprar “qualquer bem” da Rússia, Moscovo mostra-se disponível para “discutir e alcançar formas de cooperação mutuamente aceitáveis”.
“Não tenho dúvidas de que será encontrada uma maneira de contornar os impedimentos artificiais que as sanções unilaterais e ilegais do Ocidente criam. Isto também se relaciona com a área de cooperação técnico-militar”, disse o ministro russo.
A Rússia é o maior fornecedor de equipamentos de defesa para a Índia e Lavrov indicou que os dois países usarão um mecanismo de conversão rupia-rublo para comercializar petróleo, equipamentos militares e outros bens.
A Índia comprou milhões de barris de petróleo bruto à Rússia com desconto desde o início da guerra, justificando as compras como benéficas para seus cidadãos e algo que até mesmo países europeus estão a fazer neste momento.
A ministra das Finanças, Nirmala Sitharaman, disse ao canal CNBC-TV18 que a Índia continuará a comprar petróleo com desconto da Rússia. “Eu colocaria os interesses nacionais do meu país em primeiro lugar, assim como a segurança energética da Índia”, afirmou. “Por que não deveria comprar petróleo? Preciso dele para o meu povo”, acrescentou.