Portugal todo a vermelho escuro mas número de casos de covid-19 aponta para a estabilidade
No relatório da semana passada do Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças, o Norte estava abaixo do pior nível de incidência, mas isso já não acontece. Ainda assim, os dados diários da DGS e o valor do R(t) indicam um planalto.
O mapa mais recente do Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC, na sigla inglesa), sobre a evolução da incidência da covid-19, não traz notícias positivas para Portugal. Se há uma semana o país ainda tinha uma zona fora do nível mais crítico, o Norte, esta quinta-feira, com os dados mais recentes sobre as notificações da doença a 14 dias, o território está completamente pintado a vermelho escuro, o que significa que nesse espaço temporal houve mais de 300 casos de covid-19 por 100 mil habitantes. Mas os dados diários que a Direcção-Geral da Saúde (DGS) voltou a divulgar apontam para uma estabilização.
Ao contrário de Espanha, que aparece no mapa da ECDC com uma área vasta pintada a vermelho mais claro, correspondente a uma incidência a 14 dias de entre 100 a 300 casos por 100 mil habitantes, Portugal está totalmente pintado na cor que aponta para o pior valor de infecções, uma situação partilhada por vários países europeus, como França, Alemanha ou Itália.
O facto não deve, contudo, ser visto como demasiado preocupante, não só porque os riscos de morte e doença grave diminuíram significativamente com o aumento da taxa de vacinação, mas também porque os dados da DGS demonstram que, se não há a melhoria clara que se desejaria, também não se está a assistir a um agravar da situação.
Segundo a DGS, no dia 30 de Março (data mais recente com dados disponíveis), Portugal tinha registado 10.754 novos casos e 20 mortes por covid-19. Se exceptuarmos os fins-de-semana, com particular destaque para os domingos, em que o número de casos notificados é sempre muito mais baixo — no dia 27, por exemplo, só houve 3860 casos —, é visível que a estabilidade tem sido a constante deste mês.
Entre o dia 8 e o dia 30, aquele em que houve um maior número de casos registados foi mesmo o primeiro do intervalo (8), com 14.600 casos. O valor de 14 mil casos diários seria ultrapassado de novo apenas no dia 15, ficando os restantes dias sempre abaixo desse valor. Os 10.754 novos casos da passada quarta-feira estão dentro do intervalo registado, de segunda a sexta-feira, ao longo de todo o período referido, em que o extremo mais baixo foi alcançado a 24 de Março, com 10.387 casos. Os fins-de-semana são tradicionalmente períodos em que as notificações caem a pique e a análise dos dados de Março confirmam essa tendência: o valor mais alto registado foram 8554 casos no dia 12, um sábado, e o mais baixo no último domingo, com 3860 casos.
Quando se olha para as mortes associadas à covid-19, a tendência é a mesma. Os dados diários da DGS, entre 8 e 30 de Março, variam entre as 11 mortes, a 15 de Março, e as 30 no dia 21. Na passada quarta-feira registaram-se 20 óbitos associados à covid-19, mas há vários dias em que esse valor foi mais abaixo.
Também o último relatório do Instituto Nacional de Saúde Pública Doutor Ricardo Jorge (Insa), divulgado esta quarta-feira, mas com os dados mais recentes a remeterem para o dia 25 de Março, apontam para uma melhoria da situação ao nível do índice de transmissibilidade (R[t]).
O documento mostra que entre 21 e 25 de Março o R(t) foi de 0,97, correspondendo a uma média de 10.838 novos casos por dia. Neste período, a região Norte era a única do país que apresentava uma taxa de incidência inferior a 960 casos por 100 mil habitantes a 14 dias.
O R(t) mantém-se, assim, abaixo de 1, valor a partir do qual a tendência é negativa e que foi várias vezes ultrapassado durante os dois anos de pandemia. Agora, apesar de o número de novos casos se manter elevado, o R(t) a nível nacional continua abaixo dessa meta. “No comparativo europeu, Portugal apresenta a taxa de notificação acumulada de 14 dias superior a 960 por 100 mil habitantes e R(t) inferior a 1, ou seja, taxa de notificação muito elevada e com tendência decrescente”, lê-se no relatório do Insa.