110 Histórias, 110 Objectos: a régua de cálculo
O podcast 110 Histórias, 110 Objectos, do Instituto Superior Técnico, é um dos parceiros da Rede PÚBLICO.
No podcast 110 Histórias, 110 Objectos, um dos parceiros da Rede PÚBLICO, percorremos os 110 anos de história do Instituto Superior Técnico (IST) através dos seus objectos do passado, do presente e do futuro. Neste 39.º episódio do podcast, conhecemos a história da régua de cálculo.
A régua de cálculo assumiu-se como um instrumento indispensável para qualquer engenheiro até ao aparecimento das máquinas de calcular, nos anos 1970, e teve como ponto alto a viagem à lua, realizada em 1969. “Chegou à lua e voltou no bolso do Buzz Aldrin. Foi substituída pela máquina de calcular logo a seguir”, descreve Gabriel Pires, professor do departamento de Matemática do Instituto Superior Técnico. Não estudou no tempo em que a régua de cálculo era essencial no dia-a-dia do IST, ao contrário de Moisés Piedade, professor aposentado do Técnico e fundador do Museu Faraday, que terminou o seu curso em 1971: “Os estudantes tinham uma certa avidez de usar a régua de cálculo. Sabíamos que era um instrumento fundamental da Engenharia. A primeira coisa que os estudantes faziam era comprar uma régua de cálculo, mesmo que não tivessem necessidade de a usar”, recorda.
Para a sua geração, a régua era incontornável para a resolução de problemas matemáticos e de engenharia. “Eram réguas de bolso que acompanhavam o estudante para onde ele fosse. O trabalho que nós tínhamos para fazer contas em tempo útil nos exames era uma coisa que os nossos estudantes nem sequer fazem ideia”, descreve.
Falamos, claro, de réguas mais pequenas do que aquela que hoje está em exibição no Museu Faraday, no campus Alameda do Técnico. A Faber-Castell exposta no museu, com cerca de 1,8 metros por 70 centímetros, era usada pelos professores do IST como elemento de demonstração, durante as suas aulas nos anfiteatros do Pavilhão Central. “A régua descia, ficava em frente aos quadros pretos e o professor exemplificava a execução de contas usando a régua”, explica Moisés Piedade.
A génese das réguas de cálculo, sustentada na invenção dos logaritmos, remonta ao século XVII e o instrumento deu origem a uma verdadeira revolução na forma de multiplicar, em especial no cálculo das trajectórias astronómicas e de navegação. “Veio simplificar esta complicação da multiplicação. Algumas contas duravam anos a fazer”, sustenta Gabriel Pires. A régua de cálculo veio concretizar essa ideia “que existia desde a antiguidade de podermos simplificar a multiplicação recorrendo à soma” aplicando um “modelo de progressão aritmética lado a lado com progressão geométrica”, como explica o docente.
Uma régua de cálculo é, na definição doméstica de Moisés Piedade, uma “calculadora mecânica que permitia aos alunos fazer operações muito complexas, requeridas pelos cursos de engenharia aqui no Técnico”. A regra de cálculo do IST é já uma versão evoluída das originais, que incorpora 12 escalas de cada lado. “Nesta régua, a origem não começa com 0. Começa com 1 e vai até 10. E a distância nesta régua entre 1 e 2 é muito maior que a distância entre 2 e 3 e assim sucessivamente vai diminuindo. Isto é a estranheza desta régua assim num primeiro impacto. São os logaritmos que nos permitem fazer esta escala para que isto tudo funcione e que nos permitem fazer as contas rapidamente”, explica Anabela Teixeira, professora de Matemática da Escola Secundária Camões, em Lisboa.
O IST foi uma das muitas instituições de ensino ou investigação nacionais dotadas com réguas de cálculo nos anos 60. “Tarde demais para vingar”, como resume Anabela Teixeira. Mas a chegada da calculadora não foi suficiente para que se perdesse o fascínio por este instrumento capaz de fazer multiplicações complexas em poucos segundos. Anabela Teixeira, por exemplo, faz demonstrações e formações para os mais novos, em colaboração com o Museu Nacional de História Natural da Universidade de Lisboa: “Ando sempre com uma régua e sempre a treinar”. E Luís Ferreira, antigo aluno do IST, que terminou o liceu em 1973, partilha também a sua nostalgia: “No liceu criava-se aquela ansiedade. Um dia vamos poder ir para o sexto ano mexer naquela coisa que está ali pendurada em cima daquele quadro negro”, recorda. Só a partir do sexto ano se começava a utilizar a régua de cálculo. Mas quando lá chegou, já reinavam as calculadoras.
O podcast 110 Histórias, 110 Objectos é um dos parceiros da Rede PÚBLICO. É um programa do Instituto Superior Técnico com realização de Marco António (366 ideias) e colaboração da equipa do IST composta por Filipa Soares, Sílvio Mendes, Débora Rodrigues, Patrícia Guerreiro, Leandro Contreras, Pedro Garvão Pereira e Joana Lobo Antunes.
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