Bastonário dos Farmacêuticos diz que é preciso compensar aumento de custos dos medicamentos

“Vamos ter transportes mais caros, provavelmente dificuldade nalgumas matérias-primas e nalguns produtos finais e é preciso garantir que o circuito da distribuição tem condições para fortalecer os stocks para garantir o acesso”, afirmou Helder Mota Filipe.

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Helder Mota Fiilipe, bastonario da Ordem dos Farmacûuticos. Rui Gaudencio

O bastonário da Ordem dos Farmacêuticos disse hoje que os profissionais que trabalham no circuito do medicamento tudo farão para garantir o acesso, mas alertou para a necessidade de compensar o aumento dos custos em transportes e matérias-primas.

“É preciso que se criem condições para que estes profissionais possam garantir a sua parte. Vivemos tempos complicados, onde a garantia do acesso vai ter um conjunto de condições que necessitam de muita atenção”, disse Helder Mota Filipe, referindo-se designadamente ao aumento dos custos com transportes e às eventuais dificuldades nalgumas matérias-primas e nalguns produtos finais.

O bastonário, que falava depois de se reunir com a Associação dos Distribuidores Farmacêuticos (ADIFA) e antes de uma visita que efectuou a uma empresa distribuidora em Carnaxide, alertou: “Vamos ter transportes mais caros, provavelmente dificuldade nalgumas matérias-primas e nalguns produtos finais e é preciso garantir que o circuito da distribuição tem condições para fortalecer os stocks para garantir o acesso”.

“Não conseguimos ter um circuito do medicamento robusto se a parte da qual é responsável o sector da distribuição não tiver as condições indispensáveis adequadas para poder exercer a sua função”, disse o responsável, sublinhando a necessidade de “revisitar fórmulas de pagamento dos distribuidores” para tornar o sector sustentável.

“Tem de se traduzir numa fórmula mais racional que reflicta todos estes esforços adicionais que a área da distribuição tem tido”, insistiu, lembrando que é importante que o poder político “mostre abertura para revisitar este assunto”.

Em declarações aos jornalistas, Nuno Flora, presidente da ADIFA recordou que nos dois primeiros meses do ano, ainda antes do início da guerra da Ucrânia, os custos energéticos aumentaram 15%.

“Sabendo que cerca de 1/3 dos custos [do sector] são transportes, qualquer alteração nos preços dos combustíveis afecta sobremaneira a capacidade da distribuição cumprir a sua missão”, sublinhou, acrescentando que o sector já apresentou propostas ao Governo para compensar este aumento de custos.

“Já nos dirigimos ao Governo (...) com propostas que representam o que outros sectores já têm, por exemplo, a majoração da dotabilidade dos custos com combustíveis, a isenção do UIC ou reduções parciais no imposto petrolífero. São medidas de apoio a um sector que precisa de mais do que isto e que servem para uma situação aguda de crescimento muito acentuado dos custos energéticos que precisa de ser colmatada no imediato”, afirmou.

Nuno Flora explicou ainda que, nos últimos anos, tem havido “grande pressão” sobre o preço dos medicamentos e sobre as margens de lucro, “o que tem levado a que, no âmbito do sector da distribuição, se trabalhe com uma margem e uma capacidade operacional mais baixa do que aquilo que seria desejável”.

“Não tem afectado as operações porque os distribuidores têm conseguido ultrapassar estas situações. No entanto, é bom que tenhamos noção de que este sector percorre diariamente 200.000 quilómetros, faz 6.000 entregas por dia às farmácias, que mais de um milhão de produtos são entregues diariamente e que [o sector] precisa de maior acompanhamento, sobretudo na sua remuneração”, acrescentou.

O bastonário dos farmacêuticos destacou ainda o papel da logística farmacêutica na reserva estratégica de medicamentos, defendendo que a distribuição devia ser mais envolvida.

“Na reserva estratégica de medicamentos, alguns produtos são só para usar em catástrofe, como os antídotos para situação guerra química e biológica, que devem ficar armazenados para ser usados se for necessário. Mas há um grande conjunto de medicamentos usados em situação de catástrofe que são medicamentos utilizados todos os dias (...). Não faz sentido ter essas enormes quantidades de medicamentos fechadas num armazém à espera de perder o prazo de validade”, explicou.

Nas reservas estratégicas modernas -- continuou -, “essa reserva está no circuito da distribuição, aumentando o stock para garantir, mas estando sempre em circulação, não perdendo a validade”.

“Isso só se consegue fazer com um sector da distribuição farmacêutica que responda adequadamente e que seja robusto o suficiente para garantir esta reserva”, concluiu.

Falou ainda do apoio à Ucrânia, sublinhando a disponibilidade da distribuição e o apoio na entrega de uma grande quantidade de medicamentos de uso hospitalar para situações aguda e disse que estava a ser montado um processo para que as pessoas possam doar os medicamentos prioritários nas farmácias, sem que eles saiam do circuito.

“O processo está montado e os atores à espera que haja da parte das autoridades a identificação da lista dos medicamentos necessários”, acrescentou.