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Mulheres precisam-se

É de salientar que as mulheres representam a maioria da população, mas que são sub-representadas em cargos públicos. Terão os homens mais mérito e capacidade do que as mulheres? Não, claro que não, os homens e as mulheres têm o mesmo mérito. Então porque é que os homens crescem mais na política que as mulheres?

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Malte Mueller / Getty Images

Terminou no dia 23 de Março o apuramento de votos de todos os círculos eleitorais: mais uma vez, e apesar da existência de quotas, a presença de mulheres no Parlamento não alcançou os 40%. Sou uma pessoa jovem, mulher e aspirante a política. Um dos factores que me fez começar a interessar-me pela política foi as grandes mulheres que a política já teve e tem.

Há nomes que não são indiferentes a ninguém e que sigo o exemplo que o lugar das mulheres é onde elas quiserem estar: Margaret Thatcher, Indira Gandhi, Maria de Lurdes Pintassilgo, Assunção Esteves, Angela Merkel, Manuela Ferreira Leite e Lina Lopes. Todas estas mulheres são exemplos para as jovens mulheres que querem ingressar na política, mas será que há oportunidades?

Isso é questionável. Quando as mulheres começaram a intervir na política, entrou em vigor a existência de uma palavra que agora é muito usada: o mérito. É curioso, e recomendo ao leitor que o faça, ir ao site do Parlamento ver os diversos curriculum vitae das deputadas e compará-los com os curriculum vitae dos deputados — não desmerecendo ninguém, chega-se à conclusão de que as mulheres que exercem funções como deputadas têm, geralmente, um curriculum vitae mais completo que os homens.

E as quotas não permitem uma maior participação feminina na vida política? Sim e não. Sim, na medida em que, sem as quotas, a representação feminina ainda seria menor. Não porque, apesar das quotas garantirem 40% de mulheres nas listas candidatas, vão sempre em menor número comparativamente com os homens, e muitas vezes só de três em três. Por exemplo: o número um e número dois são homens, obrigatoriamente o número três terá de ser mulher, mas há círculos eleitorais em que é difícil eleger dois deputados quanto mais três sendo assim, apesar das quotas garantirem que há mais mulheres nas listas, não garantem que estejam em cargos verdadeiramente elegíveis.

É de salientar que as mulheres representam a maioria da população, mas que são sub-representadas em cargos públicos. Terão os homens mais mérito e capacidade do que as mulheres? Não, claro que não, os homens e as mulheres têm o mesmo mérito. Então porque é que os homens crescem mais na política que as mulheres?

Pode haver vários motivos, mas vou destacar dois. Primeiro, os homens entraram na política mais cedo. O motivo é a cultura que predominava em Portugal: as mulheres deveriam estar em casa a cuidar dos filhos e do lar, enquanto esperavam ansiosamente a chegada do marido. O problema é que o lugar das mulheres é onde elas quiserem, de facto até podem querer ficar em casa e dependerem do marido, mas é uma decisão delas e de mais ninguém. Mas com a entrada tardia de mulheres na política, ainda existe um longo caminho que precisa de ser feito, que tem de ser caminhado em conjunto e não de forma separada. Os homens rodeiam-se de homens e criam o seu “clube” pessoal, tanto que quando se formam listas têm sempre dificuldades em encontrar mulheres porque as afastam do seu núcleo. Não é que não haja mulheres na política, mas o ser humano vai sempre convidar para algo quem é mais próximo de si.

Segundo, a disponibilidade da mulher é diferente, isso é factual, quando existe ainda um pouco da cultura de que a mulher é que tem de fazer tudo em casa, tratar dos filhos e trabalhar — logo, arranjar tempo para reuniões e eventos partidários não é fácil, até porque normalmente os horários das reuniões nunca são muito favoráveis às mulheres. Como e que isto se resolve? Começarmos a ter mais atenção às horas das reuniões e eventos: não custa marcar uma hora que seja favorável à larga maioria e ouvir os homens e as mulheres sobre o horário que seria benéfico. É necessário criar condições para as mulheres estarem na política, com a sua essência e com a sua visão, e não barrar constantemente a entrada das mesmas.

Podemos ver o caso das autárquicas: ao início o PSD não tinha quase mulheres candidatas porque, supostamente, as mesmas não se demonstravam disponíveis, nem com interesse para se candidatarem. Quando tal soou, a deputada e coordenadora nacional das Mulheres Social-democratas, Lina Lopes, que é também embaixadora da Women Political Leaders no Parlamento português, conseguiu angariar diversas candidatas, e de grande competência. Fica a pergunta: são as mulheres que não querem ou as oportunidades não lhes são dadas?

Tudo isto se torna um ciclo vicioso, transmitindo sempre a sensação de que as mulheres não são capazes e não conseguem vingar na política. Por isso é que é tão necessário que as mulheres que já conseguiram prosperar na política chamem mais mulheres para junto de si e demonstrem que é possível ser mulher na política, que apesar de ser mais difícil, se estivermos todas unidas, iremos conseguir.

Todos os degraus que conseguimos subir para alcançar a igualdade são degraus importantes. E apesar da minha cor partidária, destaco a composição do novo Governo do PS, em que a maioria das pastas está entregues a mulheres. É o primeiro Governo constitucional em que esta composição acontece e, não analisando a competência dos ministros do próximo Governo, a integração de mais mulheres dá um sinal às mulheres que pretendem ingressar na política. Defendo, contudo, que o ideal será sempre a paridade: um equilíbrio na política entre homens e mulheres, equilíbrio esse que só se conseguirá quando alcançarmos os 50% de cada género.

É também importante destacar que outra boa prática que tem ocorrido regularmente são as academias de formação, como as que são impulsionadas pelas Mulheres Social-democratas, com o objectivo de formar mulheres politicamente, porque todos os bons políticos precisam de formação. É uma iniciativa que tem de ser destacada por ser pioneira, pela grande adesão que tem e pelo impacto que tem na vida das mulheres políticas.

Termino o artigo com a certeza de que ainda há um longo caminho pela frente até chegarmos à paridade. Mas não é um caminho impossível, por isso, na política, mulheres precisam-se.

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