}

Usar lápis de cor para lidar com o trauma: a guerra da Ucrânia pelos olhos das crianças

Mensagens de esperança, retratos do que viveram ou expressões de tristeza. Através do Instagram, um casal ucraniano está a mostrar ao mundo os desenhos de crianças sobre a guerra.

Foto

Um desenho mostra uma militar ucraniana a espreitar pela mira da espingarda com uma coroa de flores vermelhas sobre os seus longos cabelos negros. Outro retrata uma menina a brincar num baloiço sob um sol sorridente – um cenário feliz, não fossem os bombardeiros russos a voar por cima da sua cabeça.

Artem e Anastasiia Bykovets abandonaram a capital ucraniana, Kiev, aquando da invasão russa, há um mês. Durante a viagem de 37 horas rumo ao ocidente, encorajaram a filha de seis anos a desenhar o que tinha na mente, tendo já a ideia de criar uma galeria online para crianças impactadas pela guerra. Desde então, a conta de Instagram já arrecadou mais de mil seguidores, tendo publicado dezenas de desenhos enviados por crianças apanhadas pela guerra que assolou o país.

“Para eles é como um grande milagre”, disse Artem à Reuters. “É como se fizessem um desenho para a mamã ou para o papá, mas cinco minutos depois podem abrir um site e a sua fotografia está entre centenas de outras, enviadas por crianças de toda a Ucrânia. E eles sentem-se parte de uma comunidade maior”, acrescenta.

As tropas russas atravessaram a fronteira ucraniana a 24 de Fevereiro, naquilo a que chamaram uma “operação militar especial” para desmilitarizar e “desnazificar” o país. E tanto a Ucrânia como a Europa Ocidental acreditam que o Presidente Vladimir Putin iniciou uma guerra injustificada com os vizinhos da Rússia. Cidades por toda a Ucrânia estão a sofrer cercos e bombardeamentos que reduziram áreas residenciais a ruínas. De acordo com as Nações Unidas, centenas de civis foram mortos, mas a Rússia nega tê-los como alvo. Dos 3,3 milhões de refugiados ucranianos que fugiram para a Europa, a União Europeia estima que metade são crianças.

Os Bykovets, que na sua vida anterior foram organizadores de eventos, estão abrigados num pequeno quarto de hotel na Ucrânia ocidental com duas crianças, tendo como motivação o fluxo de desenhos que estão a receber, vindos de Kiev, Odesa, Chernihiv e Lutsk. Alguns revelam cenários paradisíacos de paz na Ucrânia, com famílias nos campos, rodeadas de árvores e flores. Outros descrevem o conflito com aviões, tanques e riscos a lápis de cor a representar balas – e que indicam também o trauma que as crianças enfrentam.

Quando a guerra acabar, Artem e Anastasiia planeiam organizar uma exposição com os desenhos. No entanto, por agora, esperam que a expressão artística ajude. “Sentimos muitas emoções vindas destas pequenas pessoas e elas precisam de as canalizar para fora”, remata Artem.