Há precisamente um mês, o Ocidente acordou com a notícia do início da invasão russa à Ucrânia – após meses de concentração de tropas na fronteira. As imagens da destruição e carência provocadas pelo conflito sensibilizaram a comunidade internacional, unida em acolher os milhões de refugiados criados pela guerra e em condenar as acções do presidente russo, de Vladimir Putin. Mas, passado um mês, pode dizer-se que a ofensiva russa foi um fracasso? Quais são os territórios ocupados e a que custo?
Fontes: Instituto para os Estudos da Guerra dos EUA; NYT; El País
O cerco de Mariupol
Mariupol é onde se vive a situação mais dramática. A cidade ucraniana está completamente cercada pelo Exército russo e os civis que ainda permanecem nesta zona (cerca de 100 mil) não conseguem sair em segurança.
As imagens mostram a devastação causada pelos ataques, estimando-se que 90% dos edifícios tenham sido pelo menos parcialmente destruídos pelos bombardeamentos. Os cadáveres acumulam-se nas ruas e o Presidente ucraniano, Volodimir Zelenskii, diz que os habitantes sobrevivem em “condições desumanas”, sem acesso a água, comida e medicamentos.
Em Mariupol, os civis têm sido alvo constante: um dos ataques russos teve como alvo o teatro de Mariupol, um edifício que estava a ser usado como refúgio por centenas de residentes, principalmente mulheres e crianças. Também maternidades e hospitais foram atingidos por mísseis.
As negociações para a abertura de corredores humanitários não se concretizaram, num momento em que as estimativas apontam para mais de 2500 mortes nesta cidade.
As forças russas controlam uma vasta fatia de território no Sudeste da Ucrânia, exercendo controlo sobre Donetsk, Lugansk, Kherson e Melitopol. Mais a norte, o progresso é feito com maior dificuldade. O próximo objectivo é a chegada a Kiev, capital ucraniana.
Rússia chegou a Kiev em 24 horas (mas capital resiste)
No primeiro dia da invasão, a Rússia mostrava vontade de terminar o conflito rapidamente. Com largas colunas militares e bombardeamentos estratégicos, os soldados do Kremlin avançaram por território ucraniano a passo rápido. A central nuclear de Tchernobil foi um dos primeiros alvos controlados, com tiros, sirenes e explosões a ecoarem na região de Kiev no dia que começou a ofensiva. Horas depois, a capital ucraniana foi acordada com mísseis – que atingiram um prédio com civis.
O Governo de Zelenskii ainda se mantém firme no poder, apesar das previsões sombrias nos primeiros momentos da invasão. Os Estados Unidos, uma das primeiras nações a denunciar a possibilidade de uma invasão russa da Ucrânia, previam que Kiev cairia 72 horas após o início do ataque e o conflito resultaria na morte de 15 mil soldados ucranianos. A preocupação norte-americana não era infundada: o Exército russo é o segundo maior em todo o mundo e consideravelmente superior ao ucraniano tanto em número como em meios.
Mas a estratégia de Moscovo encontrou uma resistência ucraniana forte e, para já, as baixas russas superam as ucranianas. O número de soldados russos mortos durante a invasão é tema tabu para o Kremlin. No início de Março, o Ministério da Defesa admitiu que 498 soldados russos tinham morrido nos primeiros dez dias da ofensiva. Estimativas ucranianas e norte-americanas apontavam para um número dez vezes superior.
O conselheiro presidencial ucraniano Oleksii Arestovich avisou, esta terça-feira, que qualquer tentativa russa de assumir o controlo de Kiev “é suicídio”.
Um tanque russo destruído e abandonado nos arredores de Kharkiv (Carcóvia) /SERGUEI KOZLOV/EPA
A crise dos refugiados
De acordo com dados do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), mais de 3,6 milhões de ucranianos foram obrigados a fugir do país desde a invasão russa. Este número é composto maioritariamente por mulheres e crianças, visto que todos os homens entre os 18 e os 60 anos têm obrigatoriamente de ajudar o Exército ucraniano. A lei marcial foi decretada em 24 de Fevereiro, no dia em que a Rússia invadiu a Ucrânia, e renovada no país por mais 30 dias a partir de 26 de Março.
Mais de metade destes refugiados (2,1 milhões) atravessaram a fronteira com a Polónia. A Roménia (555 mil) e a Moldova (371 mil) são os outros dois países com maior número de refugiados acolhidos.
Portugal já recebeu 17.504 refugiados ucranianos em território português, dos quais 6200 são menores, informou o primeiro-ministro, António Costa, esta terça-feira.
As sanções e os impactos na Rússia
A comunidade internacional respondeu à invasão russa com pacotes de sanções, concebidos para estrangular a economia russa e a liquidez dos oligarcas próximos de Vladimir Putin e responsáveis pelo financiamento do esforço de guerra russo. Os sistemas financeiro e energético, a exportação de material militar e a venda de bens de alta tecnologia foram os primeiros alvos das penalizações.
Sete bancos russos – Otkritie, Rossiia, Novikombank, Promsviazbank, Sovcombank, Vnesheconombank (VEB) e o VTB – foram excluídos do SWIFT, o principal sistema de comunicação que os bancos utilizam para realizar transacções transfronteiriças seguras e rápidas. Apenas dois bancos, o Sberbank e o Gazprombank – os dois maiores fornecedores de pagamentos de petróleo e gás natural proveniente da Rússia –, não foram abrangidos por esta sanção. O SWIFT, principal mecanismo de financiamento do comércio internacional, abrange mais de 11 mil instituições em mais de 200 países.
Importação de gás natural russo pela UE
Peso por país do gás natural russo em 2020 (percentagem)
Nota: A Áustria não revelou a origem das importações de gás natural em 2020; dados incluem gás liquefeito e transportado por gasoduto
Os russos sentem diariamente as sanções na carteira, devido ao aumento do preço de bens, medicamentos e outros produtos. A desvalorização do rublo chegou a atingir 86,1% na primeira semana de Março, chegando a um patamar histórico: a moeda russa depreciou-se para 152 rublos por um dólar e para 164 rublos por um euro.
Como forma de retaliação e para contrariar a desvalorização da moeda, o Presidente da Rússia exige que o pagamento de gás exportado para os países europeus e outros que classifica como “hostis” seja feito em rublos e não em euros ou em dólares.
O anúncio da mudança da moeda nas transacções fez com que alguns preços do gás no mercado de futuros europeu e britânico subissem entre 15% e 20%.