Turquia: há 20 anos a pensar num Mundial

Com um novo treinador que ainda não perdeu, uma referência atacante de 36 anos que continua a marcar golos e jogadores com experiência internacional, a selecção turca será um adversário difícil para Portugal.

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Reuters/UMIT BEKTAS

A Turquia está há 20 anos à espera de um Mundial. Foram duas décadas a pensar naquela meia-final com o Brasil no Coreia/Japão 2002, decidida por um golo de Ronaldo “Fenómeno”. Nunca a selecção turca tinha chegado tão longe, mas não voltaria a ter nova oportunidade — falhou as qualificações para os quatro Mundiais seguintes. Em 2022, é a Turquia que está no caminho de Portugal na primeira eliminatória de acesso ao Mundial do Qatar, uma selecção que está cada vez mais habituada ao seu novo (e invencível) treinador, recheada de jogadores com experiência internacional e liderada por um goleador veterano que continua a ser um perigo.

Que equipa é esta que vai defrontar a selecção portuguesa amanhã, no Dragão? “A Turquia é uma selecção que tem vindo a evoluir nos últimos anos”, assinala ao PÚBLICO Daniel Candeias, extremo já com quatro épocas de experiência no futebol turco — duas no Gençlerbirligi, duas no Alanyaspor, equipa que representa actualmente. “Tem muita qualidade, com muitos jogadores a actuarem nas grandes Ligas europeias. Vale pelo seu todo”, acrescenta o experiente jogador de 34 anos, formado (e campeão) no FC Porto.

Esta Turquia não é a mesma selecção que iniciou a qualificação para o Mundial 2022. Começou com o veterano Senol Gunes no banco e abriu o apuramento com estrondo, com uma vitória por 4-2 sobre os Países Baixos e outra por 0-3 frente à Noruega. Eram dois triunfos sobre os dois adversários mais difíceis do Grupo G, mas o problema foram os jogos com selecções teoricamente mais fracas (empates com Letónia e Montenegro), mais uma participação para esquecer no Euro 2020 — três derrotas, um golo marcado e oito sofridos.

A mudança aconteceu após a goleada (6-1) sofrida em Amesterdão, frente a uma selecção neerlandesa revitalizada com o regresso de Louis van Gaal. Senol Gunes demitiu-se (ou foi despedido, consoante as versões) e a federação turca, em vez de olhar para dentro, decidiu-se por um estrangeiro. Klinsmann e Schevchenko estavam na lista, mas o escolhido foi Stefan Kuntz, treinador dos sub-21 da Alemanha e antigo médio campeão europeu em 1996.

Como jogador, já tinha estado uma época na Turquia, a acompanhar Christoph Daum no Besiktas, mas esta seria a sua primeira experiência como treinador de seniores, com a missão de manter a Turquia na luta pelo Mundial. Já não foi a tempo de conseguir a qualificação directa, mas não voltou a perder. Foram três vitórias e um empate nos restantes quatro jogos, o suficiente para segurar o segundo lugar do agrupamento, atrás dos Países Baixos e à frente da Noruega.

A Turquia é assim tão diferente com Kuntz? “Ele ainda não fez muitos jogos, mas a Turquia estará mais consistente desde que ele chegou”, refere Candeias. Mas sem perder a vocação ofensiva, acrescenta o jogador português. “É o estilo turco. Eles gostam de atacar”, alerta.

Experiência internacional

Mais de metade dos convocados da Turquia para este play-off jogam na Superliga turca (14 em 26), mas há muita experiência internacional ao mais alto nível nesta selecção. Para além de dois “velhos” conhecidos do futebol português, o ex-guarda-redes do FC Porto Sinan Bolat (Gent) e o ex-central do Sporting Merih Demiral (Atalanta), há muita gente espalhada pelos principais campeonatos europeus.

Hakan Çalhanoglu, médio ofensivo do Inter Milão, é a “estrela” da companhia, com uma carreira feita entre a Bundesliga e a Série A, mas também há Cengiz Under, médio/extremo do Marselha, Soyuncu, central do Leicester City, Yusuf Azic, avançado do CSKA Moscovo, ou Enes Unal, ponta-de-lança em grande forma do Getafe. Nenhum será, no entanto, mais experiente do que Burak Yilmaz, o veterano avançado de 36 anos do Lille, melhor marcador turco em actividade (30 golos em 76 internacionalizações), e ainda capaz de criar perigo ao mais alto nível — marcou há poucas semanas na Liga dos Campeões, frente ao Chelsea, campeão europeu.

O que Portugal não terá de enfrentar é o vibrante público turco. “É uma sorte Portugal jogar em casa. Se fosse na Turquia seria um ambiente muito hostil, mas Portugal já tem muita experiência e não faria assim tanta diferença”, refere Daniel Candeias, que irá torcer, naturalmente por Portugal, e é provável que até veja o jogo de amanhã ao lado dos seus colegas portugueses no Alanyaspor, o guarda-redes Carlos Marafona, o médio João Novais e o avançado Wilson Eduardo.

Haverá treino no dia seguinte e Candeias quer enfrentar os seus companheiros turcos de cabeça levantada: “Eles querem ganhar, mas espero que isso não aconteça para não ser massacrado pelos meus colegas.”

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