Editora holandesa retira das livrarias polémica investigação sobre Anne Frank
A Ambo Anthos, editora de Het Verraad van Anne Frank (Quem Traiu Anne Frank?), livro que presumia identificar o autor da delação da famosa família judia, tomou a decisão na sequência de um estudo, divulgado esta terça-feira, que classifica a investigação como “amadora” e incapaz de sobreviver a um escrutínio sério.
Primeiro a notícia correu mundo. Het Verraad van Anne Frank (Quem Traiu Anne Frank?, na edição portuguesa), livro escrito pela canadiana Rosemary Sullivan a partir de uma investigação liderada por um agente do FBI reformado, dava finalmente solução à pergunta por responder no caso Anne Frank, ou seja, nele iríamos descobrir quem denunciara a família escondida dos nazis no anexo secreto de um sótão de Amesterdão. Logo depois, porém, chegou a polémica, com vários historiadores, especialistas no caso e membros de associações judaicas a contestarem as conclusões apresentadas, classificando-as como meras especulações. Agora, o desfecho: esta quarta-feira, a editora holandesa Ambo Anthos, responsável pela edição original, pediu “desculpas sinceras” aos ofendidos pelo conteúdo da obra e anunciou que o livro deixará de estar disponível, pedindo às livrarias a devolução dos exemplares que detenham.
A decisão chega após a divulgação, na terça-feira, dos resultados de uma contra-investigação realizada nos Países Baixos por historiadores e estudiosos da Segunda Guerra Mundial, segundo a qual as conclusões apresentadas no livro não resistem a um escrutínio rigoroso. “Não há qualquer evidência séria para esta grave acusação”, concluem os autores, que, citados pela BBC, classificam como “amadora” a investigação desencadeada por Pieter Twisk, um produtor televisivo holandês, e liderada pelo ex-agente do FBI Vince Pankoke. "Tendo em conta as conclusões deste estudo, decidimos que, com efeito imediato, o livro deixará de estar disponível. Iremos contactar as livrarias para que devolvam o seu stock”, informa a Ambo Anthos, que já suspendera a impressão da obra em Fevereiro, num comunicado citado pelo Guardian.
O livro identificava Arnold van den Bergh, um abastado notário judeu que viria a morrer em 1950 de cancro na garganta, como sendo, “muito provavelmente”, o autor da denúncia que levou à descoberta de Anne Frank e sua família pelos ocupantes nazis. Após o anúncio do fim da publicação do livro nos Países Baixos, a neta de van den Bergh pede agora que a britânica HarperCollins, responsável pela edição em língua inglesa e também pela versão portuguesa, editada no início do mês, tenha o mesmo procedimento. “Com esta história estão a aproveitar-se da história de Anne Frank, estão a falsificar a História e a contribuir para uma grande injustiça”, afirmou. A Harper Collins não comentou até ao momento os desenvolvimentos do caso.
Através do seu diário, que narra o período em que se manteve escondida com a família após a ocupação nazi, Anne Frank, jovem judia holandesa, tornou-se um dos maiores símbolos dos horrores do Holocausto. Depois de dois anos a viver clandestinamente no anexo secreto do sótão de um armazém em Amesterdão, seria descoberta pelos nazis em Agosto de 1944 e morreria no ano seguinte, aos 15 anos, no campo de concentração de Bergen-Belsen.