Germano Silva abandona comissão de toponímia da Câmara do Porto que se dividiu sobre Gisberta
Jornalista e investigador da história da cidade sai por “motivos pessoais”. Mas atribuição de nome de Gisberta a rua do Porto gerou discussão na última reunião e Germano diz que viola o regulamento da comissão.
Não foi por causa da atribuição do nome de Gisberta a uma rua do Porto que Germano Silva decidiu sair da comissão de toponímia - embora esta decisão mereça a desaprovação do jornalista e investigador de história da cidade por “violar o regulamento” desta entidade. Numa carta que já fez chegar à Câmara do Porto, Germano Silva alegou “motivos pessoais e meramente pessoais” para sair, garantiu ao PÚBLICO.
Germano Silva tem neste momento três grandes projectos para concretizar e um deles implica estar fora da cidade às quintas-feiras – o dia em que decorrem as reuniões desta comissão. “Olho para o meu calendário e percebo que há falta de tempo para tudo”, disse. “É uma decisão que já estava tomada antes da última reunião.”
Nesse encontro, o primeiro desde que foi renovada a comissão, foi aprovada a entrada de Gisberta Salce Júnior - com sete votos a favor e seis contra - para a bolsa de nomes da comissão de toponímia da Câmara Municipal do Porto. A decisão não foi, no entanto, pacífica. No momento da votação, Germano Silva pediu a palavra e explicou por que razão votaria contra: “O regulamento prevê que se dêem nomes de ruas a pessoas do Porto, que tenham feitos notáveis. Se o regulamento está errado então faça-se uma revisão. Mas respeite-se o regulamento”, reproduz o próprio ao PÚBLICO.
Isabel Ponce Leão, presidente da comissão de toponímia, lamenta a saída de Germano Silva e subscreve as suas preocupações. “Estou do lado dele”, admitiu, contando que também votou contra o nome de Gisberta pela mesma razão. A professora catedrática preferiu respeitar a vontade da maioria – deixando agora nas mãos do executivo a decisão final -, mas defende que o regulamento actual não permite atribuir o nome de Gisberta a uma rua. Para Isabel Ponce Leão seria mais “vantajoso” colocar “uma placa” no local onde a mulher transexual foi assassinada há 16 anos.
Germano Silva começa pelo mais importante - “Foi um crime horrível e inqualificável que nos envergonha enquanto cidade solidária. É abominável” -, mas tem, também, outra sugestão para homenagear Gisberta. “Devia fazer-se um memorial. Que se diga o que aconteceu ali para que nunca mais se repita.”
A homenagem, recorda, não é sequer inédita. “Há anos, numa manifestação do Primeiro de Maio, dois jovens foram assassinados junto à estação de São Bento e está lá uma placa em mármore a evocar isso. Essa memória perdura ali.”