Morreu o arqueólogo e investigador João Carlos Senna-Martínez aos 74 anos
Era especialista em Pré-História geral, de África e de Portugal, sociedades da Idade do Bronze na Península Ibérica, património arqueológico e arqueologia de África.
O arqueólogo e investigador João Carlos Senna-Martínez, professor aposentado mas ainda dedicado a vários projectos no interior do país, morreu no domingo de manhã, em Lisboa, aos 74 anos, indicou esta segunda-feira à agência Lusa fonte académica.
De acordo com um comunicado do Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa (Uniarq), ao qual o investigador pertencia, João Carlos Senna-Martínez deixa uma extensa obra científica, tendo sido promotor de múltiplos projectos de investigação.
Recentemente desenvolvia trabalhos de campo entre as regiões de Macedo de Cavaleiros e Nelas, nos distritos de Bragança e Viseu, segundo a Uniarq.
Era especialista em Pré-História geral, de África e de Portugal, sociedades da Idade do Bronze na Península Ibérica, património arqueológico e arqueologia de África, matérias sobre as quais leccionou no Departamento de História da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, desde 1979 até 2012.
Doutorado em Pré-História e Arqueologia pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (1990), João Carlos Senna-Martínez era também licenciado em História pela Faculdade de Letras, na mesma universidade (1979), e bacharel em História pela Faculdade de Letras da Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo, Moçambique (1975).
“Perdeu a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa um dos seus docentes de Arqueologia (História e Estudos Africanos) que marcou diferentes gerações de estudantes dos diferentes ciclos de ensino”, lamenta a instituição, no comunicado.
A investigação africana de Senna-Martínez incidiu na arqueologia de Moçambique, com trabalhos sobre as sociedades da fase final da Pré-História e Idade do Ferro, nas décadas de 1960 e 1970, “recentemente reatada, em distintos moldes e perspectiva, com os estudos das colecções do Instituto de Investigação Científica Tropical, presentemente à guarda do Museu de História Natural e da Ciência, da Universidade de Lisboa, bem como dos percursos biográficos dos seus investigadores”, refere.
Ainda na década de 1970, ingressou na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa onde se licenciou, doutorou e prosseguiu a carreira académica, como monitor, assistente, professor auxiliar e professor associado, até à aposentação.
Em Portugal, a investigação de Senna-Martínez começou por incidir no megalitismo da Beira Interior, continuando trabalhos iniciados pelo também professor e investigador em arqueologia João de Castro Nunes (1921-2016).
“Sem nunca deixar de se ocupar do fenómeno megalítico, os seus interesses foram-se progressivamente alargando, passando a incluir os temas da metalurgia antiga, desde o Calcolítico ao período Orientalizante, sempre centrado nas regiões do interior do actual espaço português, sem deixar de lançar olhares para outras regiões, designadamente a Estremadura e o baixo Mondego, as naturais charneiras entre os mundos Mediterrâneo e Atlântico, reflectidos no registo arqueológico do interior”, sublinha o Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa.
Nos últimos anos, a sua actividade foi marcada pelo envolvimento em projectos interdisciplinares relacionados com a metalurgia antiga, desde o cobre e bronze ao ouro, e no estudo abrangente das chamadas “colecções coloniais”, além da dinamização da Secção de Arqueologia da Sociedade de Geografia de Lisboa,
Ao longo da sua carreira, Senna-Martínez promoveu também ligações entre a sociedade civil e associações culturais locais, levando as universidades a territórios do interior, nomeadamente através da Associação Terras Quentes - Associação de Defesa do Património Arqueológico do Concelho de Macedo de Cavaleiros.