OCDE prevê corte de quase 1,5 pontos no crescimento da zona euro
Face ao impacto da guerra, Estados devem amortecer efeito da subida dos preços da energia e banco centrais devem concentrar-se em manter as expectativas de inflação ancoradas, diz a OCDE.
Os preços mais altos da energia e dos cereais trazidos pela guerra na Ucrânia poderão, caso se mantenham nos próximos meses, retirar mais de um ponto ao crescimento da economia mundial e 1,4 pontos à variação do PIB da zona euro, prevê a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), que aponta ainda para uma inflação mundial 2,5 pontos percentuais mais elevada.
Na sua primeira análise ao efeito da guerra na Ucrânia na economia mundial, a organização com sede em Paris assinala, na nota publicada esta quinta-feira no seu site, que “a Rússia e a Ucrânia são relativamente pequenas no que diz respeito ao seu PIB [que representa cerca de 2% do PIB mundial], mas são grandes produtoras e exportadoras de alimentos chave, minerais e energia”.
É por isso que a guerra já provocou “choques económicos e financeiros significativos”, nomeadamente por via de um aumento de preços de cereais e bens energéticos que afectam a maior parte das economias mundiais. Para a OCDE, “os movimentos nos preços das matérias-primas e nos mercados financeiros vistos desde o início da guerra, se persistirem, reduzem a taxa de crescimento do PIB mundial em mais de um ponto percentual no primeiro ano, com uma recessão profunda na Rússia, e elevam a taxa de inflação global em aproximadamente 2,5 pontos percentuais”.
As previsões apontam ainda para que a zona euro seja, entre os grandes blocos económicos mundiais, a mais afectada, devido sobretudo à forte dependência que as suas economias têm relação à importação de bens energéticos, em particular provenientes da Rússia. De acordo com os cálculos da OCDE, a taxa de crescimento do PIB pode agora ser cerca de 1,4 pontos percentuais mais baixa do que o antes previsto.
No que diz respeito à resposta de política económica que pode ser dada nesta crise, a OCDE não faz, ao contrário do que aconteceu durante a pandemia, o apelo a apoios incondicionais por parte dos bancos centrais e dos Estados.
Aos bancos centrais, diz que “perante um choque negativo de dimensão e duração incertas, a política monetária deve manter-se focada em assegurar que as expectativas de inflação estão bem ancoradas”, o que na prática significa “manter os planos anteriores à crise” de retirada progressiva das medidas expansionistas lançadas durante a pandemia.
Já para os governos, a recomendação da OCDE é a de implementação de “apoios orçamentais bem desenhados e cuidadosamente apontados”, destinados principalmente a “amortecer o impacto dos preços da energia mais altos e a diversificar as fontes de energia”. Uma política orçamental desta natureza dará “apenas um pequeno ímpeto extra à inflação”.