Partículas no ar ultrapassaram em oito vezes o limite recomendado para a saúde em Évora
“Desde ontem [terça-feira], todos os limites foram excedidos”, afirma a investigadora Maria João Costa, por causa do fenómeno que trouxe poeiras do deserto do Sara até à Península Ibérica. Prevê-se que amanhã, quinta-feira, ainda existam ainda “concentrações elevadas” de partículas.
A quantidade de partículas no ar detectadas em Évora, na terça-feira passada, devido às poeiras vindas do norte de África, foi, em média, cerca de oito vezes superior ao limite recomendado para a saúde humana, revelou esta quarta-feira uma investigadora.
“Estamos a medir as concentrações à superfície, porque existem valores que estão recomendados para a saúde humana, e, desde ontem [terça-feira], todos os limites foram excedidos”, afirmou Maria João Costa, investigadora da Universidade de Évora (UÉ) e coordenadora do Laboratório de Detecção Remota (EaRSLab), que está a recolher dados sobre o fenómeno meteorológico.
Segundo a também professora do Departamento de Física da UÉ, existem, junto à superfície terrestre, “concentrações muito elevadas destas partículas”, o que “pode acarretar alguns riscos para a saúde pública”. “As pessoas deverão proteger-se e usar máscara”, sublinhou a responsável.
De acordo com Maria João Costa, as medições efectuadas pelo EaRSLab indicaram que foram atingidos em Évora, na terça-feira às 19h37, um máximo de 784 microgramas por metro cúbico (mg/m3) e um valor médio em 24 horas de 424 mg/m3.
Maria João Costa precisou que a legislação europeia define um limite médio diário de partículas em suspensão do tipo PM10 de 50 mg/m3 e que esse valor “não pode ser excedido mais do que 35 vezes por ano civil”.
A coordenadora do EaRSLab indicou que este fenómeno, que afecta “grande parte da Península Ibérica e da Europa Central”, está relacionado com o “transporte massivo de poeiras originárias do norte de África, do deserto do Sara”.
Estas partículas “estão a ser arrastadas por acção de ventos de sul, que são uma consequência da situação sinóptica dos últimos dias, em que tivemos a depressão Célia a afectar a Ilha da Madeira”, explicou.
A professora da UÉ disse ter sido detectado, inicialmente, “o transporte em altitude” das poeiras, a “cerca de quatro quilómetros”, mas as partículas acabaram por ir “descendo gradualmente”.
“Além de termos nuvens altas, temos uma camada tão espessa de poeira que impede a radiação solar de penetrar e acaba por extinguir muita radiação solar e, daí, nós vermos este ar amarelado”, disse.
Advertindo que este fenómeno “é frequente no final do Inverno e início da Primavera”, Maria João Costa lembrou que, em Março de 2021, já tinha ocorrido um episódio “não tão forte” e que, “há exactamente 10 anos, em Março de 2012, houve uma ocorrência muito parecida”.
“São pequenas partículas, que nós chamamos de aerossóis e que se encontram em suspensão na atmosfera. Por serem muito pequenas, são leves e, daí, conseguirem ser transportadas” ao longo de muitos quilómetros, notou.
A investigadora disse que o fenómeno deverá persistir em Portugal até quinta-feira, pois “o centro de baixas pressões está a mover-se para o norte de África”, o que vai “continuar a arrastar estas poeiras do sul”.
“Amanhã [quinta-feira], durante a manhã, provavelmente, ainda teremos concentrações elevadas, mas, depois, espera-se que diminuam gradualmente ao longo do dia e a situação acabe por normalizar”, acrescentou.