Preços dos cereais deslizam nos mercados internacionais

Os preços do trigo e do milho negociados em bolsa estão a desvalorizar-se, mas mantêm-se cerca de 35% acima dos valores verificados antes do início da guerra.

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Adriano Miranda

À semelhança do que está a acontecer com os produtos energéticos, também os produtos alimentares cotados em bolsa mostram sinais de correcção dos preços depois das subidas acentuadas motivadas pela guerra na Ucrânia. As descidas são ainda ligeiras e os preços mantêm-se muito acima daqueles que se verificavam antes da invasão da Rússia à Ucrânia.

Esta quarta-feira, a cotação do trigo para entrega em Maio negociou nos 378,75 euros por tonelada métrica, segundo os dados disponibilizados pela Euronext, que gere a negociação desta matéria-prima na Europa. É uma queda de cerca de 10% face ao recorde de 422,40 euros por tonelada métrica que foi atingido a 7 de Março, o mesmo dia em que o barril de petróleo negociado em Londres tocou nos 139 dólares, um máximo desde 2008.

Já o milho para entrega em Maio, também negociado na Europa, alcançou os 346 euros por tonelada métrica, quase 9% abaixo do máximo histórico de 379 euros alcançado no início deste mês.

O mesmo cenário se verifica nas matérias-primas alimentares negociadas nos Estados Unidos. O trigo transaccionado em Chicago está a cotar nos 10,7 dólares por alqueire, afastando-se do máximo de mais de 13 dólares que atingiu no início de Março. O milho sofre variações menos evidentes, mas, ainda assim, negoceia em baixa, totalizando agora 7,30 dólares por alqueire, abaixo do pico de 7,62 dólares registado no final da semana passada.

Apesar destas correcções, e ao contrário do que se verifica com o petróleo – que está a aproximar-se dos valores registados antes do início da guerra – os preços dos cereais mantêm-se muito acima daqueles que se verificavam antes de a Rússia invadir a Ucrânia. A justificar essa tendência está o facto de a Ucrânia ser o quinto maior exportador de trigo do mundo, com uma quota de mercado global de 10% neste cereal, e o quarto maior exportador mundial de milho, com uma quota ainda mais expressiva, de 15%.

É perante este cenário de possíveis disrupções na cadeia de fornecimento que estes produtos sofrem aumentos expressivos. Por esta altura, tanto a cotação do trigo como a do milho estão cerca de 35% acima da que era registada imediatamente antes da guerra.

E os preços poderão manter-se nestes níveis, tendo em conta a incerteza em torno da guerra e as expectativas quanto à comercialização de cereais por parte da Ucrânia. Esta semana, a consultora especializada em agricultura APK-Inform estimou, citada pela Reuters, que a produção ucraniana de cereais deverá cair 39% no conjunto deste ano. A isso, acresce a possibilidade de 2 milhões de hectares de cultura de trigo, centeio e cevada virem a ser danificados devido aos ataques russos. “Significa uma perda de 28%”, refere a consultora.

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