Aumento do preço dos combustíveis pode agravar falta de professores nas escolas

A Fenprof apresentou ao Governo uma proposta no sentido de actualizar o valor pago aos docentes que se deslocam por razões de serviço distribuído, em percentagem igual à do aumento dos combustíveis.

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Ainda há alunos sem professor atribuído a pelo menos uma disciplina Daniel Rocha

O aumento do preço dos combustíveis afecta os professores que trabalham longe de casa e poderá agravar a falta de docentes nas escolas, alertam os sindicatos, que falam em milhares de alunos sem todos os professores atribuídos.

Os efeitos da guerra na Ucrânia, que começou há exactamente 20 dias, já se começam a sentir no dia-a-dia dos portugueses, com o “brutal aumento do preço dos combustíveis”, alertaram a Federação Nacional dos Professores (Fenprof) e o Stop – Sindicato de Todos os Profissionais de Educação.

A deslocação diária ou semanal de casa para as escolas faz parte das rotinas dos professores, em especial quando se encontram deslocados da área de residência. Tanto a Fenprof como o Stop avisam que o aumento do preço dos combustíveis poderá agravar ainda mais o processo de preenchimento de horários vazios, porque os ordenados oferecidos não chegam, muitas vezes, para pagar uma renda longe de casa e os transportes de quem vive longe.

“Se já tínhamos esse problema, porque há situações em que aceitar um horário longe de casa significa ter de pagar para trabalhar, acreditamos que a situação se vai agravar ainda mais”, disse à Lusa André Pestana, do Stop, lembrando as dificuldades sentidas em especial nas escolas das regiões de Lisboa, Setúbal e Algarve.

“Há milhares de alunos sem professores a uma ou mais disciplinas desde o início do ano, em escolas aonde não compensa financeiramente os professores deslocarem-se”, sublinhou o coordenador nacional do Stop.

Segundo contas feitas pela Fenprof, na semana passada, a 9 de Março, havia pelo menos “25 mil alunos sem todos os professores atribuídos”, tendo em conta os cerca de 400 horários por preencher e que deverão corresponder a mais de cinco mil horas. Para os sindicatos, o Governo tem de avançar com algumas das medidas que têm sido pedidas, como a atribuição de um subsídio de transporte e de alojamento.

“O problema, contudo, não se limita às deslocações de casa para a escola, mas também às que decorrem de serviço distribuído”, acrescenta a Fenprof, dando como exemplo os casos de professores que dão aulas em várias escolas do mesmo agrupamento ou que vão a casa dos alunos no âmbito da Intervenção Precoce.

Há ainda viagens para outras escolas para efeitos de avaliação externa (observação de aulas) de outros professores, deslocações para participação em acções de formação obrigatórias ou deslocações de docentes adstritos ao serviço de exames.

“Nestes casos, as deslocações são, por norma, feitas em transporte próprio, e, mesmo quando há lugar ao pagamento de subsídio, o que acontece raramente, se o mesmo já era insuficiente, a insuficiência, agora, tornar-se-á ainda maior”, acusa a Fenprof.

Por isso, a Fenprof apresentou ao Governo uma proposta no sentido de actualizar o valor pago aos docentes que se deslocam por razões de serviço distribuído, em percentagem igual à do aumento dos combustíveis.

O Stop acredita que esta deve ser uma luta que junte mais organizações e grupos afectados e por isso convidou na segunda-feira as centrais sindicais CGTP e UGT, assim como os sindicatos e federações docentes.

“A ideia é juntar forças para exigir do Governo medidas concretas, de forma a minorar significativamente este aumento de preços com consequências na qualidade de vida de toda a sociedade e, consequentemente, de toda a comunidade escolar, desde profissionais da educação, alunos e as suas famílias”, acrescentou.