Mercadona: “Não vai haver problemas de abastecimento” em Espanha e Portugal

Entre dois males – racionar ou não ter stock para vender –, o presidente da Mercadona escolhe limitar a venda de alguns produtos na rede de 1662 supermercados que detém na Península Ibérica. Ordenados sobem em 2022, mas entre Espanha e Portugal há uma diferença de 500 euros.

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Nelson Garrido

“Não vai haver problemas de abastecimento de produtos – isso, posso garantir-vos”, afirmou esta terça-feira Juan Roig, presidente da Mercadona, que assegurou que o grupo “está preparado para abastecer a cadeia”, que “é forte em Espanha e Portugal”, de 1662 supermercados nos dois países.

Como a Mercadona já decidiu há alguns dias – à luz da invasão da Ucrânia pela Rússia e da falta de alguns produtos com origem nos dois países –, limitar a venda de, por exemplo, óleo de girassol a um número de unidades pré-estabelecido por cliente, Juan Roig viu-se na manhã desta terça-feira questionado várias vezes sobre o assunto na conferência de imprensa do grupo.

O que há, explicou o fundador do grupo familiar nascido há 45 anos em Valência, é a escolha entre dois males – ou não racionar e dar livre trânsito a “açambarcamento” e “especuladores” que esgotem rapidamente os stocks, ou limitar agora as vendas e possibilitar que todos possam abastecer-se. Roig, que deu o exemplo da procura extraordinária por papel higiénico no início do confinamento da pandemia (“no primeiro mês vendeu-se duas vezes mais, mas foi o mesmo em termos anuais”), não escondeu que pode haver “casos pontuais de produtos que poderão faltar em alguns dias”. Mas isso acontece em tempos normais também - “não há alarme”, o “abastecimento está assegurado”, repetiu.

Para um grupo dono de uma quota de 27,1% do mercado espanhol e cujo ticket médio foi de 27 euros (medida do sector que contabiliza o gasto médio por cliente por talão de compra), quando a questão foi sobre como irá o consumidor adaptar-se à subida da inflação alimentar e que efeitos poderá ter na saída de caixa dos supermercados Mercadona, a resposta soou à memória recente de outras crises. “A alimentação é um bem necessário, toda a gente tem que comer”, resumiu o presidente do grupo, e o que “antes era presunto, agora é mortadela” no cesto de compras, fruto da adaptação dos consumidores.

Porque estes são tempos inéditos, sublinhou – saídos de um ano de 2021 em que em Espanha enfrentou um aumento de 36% no preço da energia e em que suportou mais 65 milhões de euros em custos de transporte. E “o futuro é desconhecido”, sobretudo após o início do conflito da Ucrânia, país com um peso significativo no abastecimento mundial de milho, trigo e óleo de girassol.

Juan Roig aproveitou o encontro com jornalistas desta manhã para mandar três recados governamentais, mais a pensar em Madrid do que Lisboa. Na energia, “há que mudar já a fórmula [de cálculo das tarifas] da energia [juntos de empresas e consumidores domésticos] – não amanhã, hoje já”. O grupo adaptou já, em 2021, os seus contratos de abastecimento de energia para os próximos três anos.

Nos impostos, o “IVA é inflacionista – a cada vez que sobe um preço o Estado leva o dinheiro”, criticou Roig.

E, em terceiro lugar, insistiu várias vezes na conferência: “há que eliminar a burocracia – se queremos actividade económica, [tem de haver] silêncio administrativo”.

500 euros de diferença bruta

Com uma estimativa anual de inflação de 6,5% prevista pelo conselho de administração da Mercadona para Espanha e de 2,7% para Portugal, com base em dados até 15 de Fevereiro, o grupo decidiu que os salários devem aumentar para os cerca de 96 mil empregados na mesma proporção: 6,5% para os salários das 93.300 pessoas em Espanha e 2,7% para os 2500 trabalhadores em Portugal.

Além de a inflação em Portugal adivinhar-se mais alta nos próximos meses, subsiste uma outra grande diferença: é que entre os dois lados da fronteira o hiato salarial ronda os 500 euros, que aumenta com a subida do patamar de retribuição.

No caso do salário de entrada no grupo – o salário mais baixo, aplicado a menos de um ano de antiguidade - a Mercadona paga, em bruto, 1425 euros em Espanha e 932 euros em Portugal, explicou Juan Roig. São portanto menos 493 euros por mês deste lado da fronteira.

No nível mais elevado da “tabela salarial dos colaboradores base” do grupo (mais de quatro anos de antiguidade), se o emprego for em Espanha, o salário é de 1929 euros (brutos), mas se for na Mercadona em Portugal, o salário auferido é de 1414 euros brutos por mês. Neste caso, a diferença sobe para 515 euros, antes dos efeitos de impostos e contribuições nos dois países.

O grupo destaca que o salário mais baixo da Mercadona em Espanha “é cerca de 27% superior ao Salário Mínimo Interprofissional (1126 euros bruto/mês)” naquele país, “sendo mais 71% no último escalão, [referente a] mais de quatro anos (incluindo os subsídios de Natal e férias)”.

No caso português em que, em termos líquidos, o salário evolui de 783 euros (os já referidos 932 euros brutos), no primeiro escalão, para 846 euros, 924 euros, 990 euros nos escalões seguintes, culminando em 1085 euros líquidos no quinto escalão, a Mercadona salienta que o salário mais baixo do grupo “em Portugal é aproximadamente 13% superior ao Salário Mínimo Nacional (823 euros bruto/mês), sendo de mais 72% no último escalão (incluindo os subsídios de Natal e férias)”.

Alterado às 17h, para corrigir valor das percentagens de aumento salarial em Espanha e Portugal

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