O êxtase da pop e o silêncio da literatura

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Randy Bachman/Getty Images

Dizem certos autores que a música pop se alimenta de uma ausência. A do artista, do performer, da personagem que preenchemos quando assistimos a um concerto ou abrimos uma revista de música. Mas o inverso também se sucede, quando, rodeados de imagens, insistimos em procurar e ouvir as vozes. Queremos apanhar o “isto foi” da gravação, do registo, ainda que sem o drama barthesiano; afinal, quando colocamos um disco a tocar espantamos um pouco a morte. Foi com este desejo que cheguei a uma cidade. Depois de descer uma longa rua, atravessei a estrada. Do outro lado, aguardava-me uma loja de discos e no seu interior, dois álbuns dos Bow Wow Wow (banda inglesa criada por Malcolm McLaren em 1980). Levei-os para casa, quais tesouros perdidos e quando os acordei entreguei-me ao júbilo da sua música. Sou capaz de jurar, que, naquela tarde, senti no rosto o sopro da voz de Annabella Lwin e que a banda inglesa esteve ali, na sala, a tocar. Durou pouco a ilusão provocada pelos génios libertados da lâmpada. O gira-discos acabou por se calar e os Bow Wow Wow regressaram ao passado.

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