Como distinguir a verdade no meio de tanta informação nesta era digital?

Esta foi a segunda sessão da terceira série das PSuperior Talks, uma iniciativa do PÚBLICO que pretende trazer o debate para cima da mesa entre os mais jovens. Nela discutiu-se como enfrentar a desinformação, as ameaças do excesso de informação a que estamos expostos e o papel que o jornalismo tem neste cenário digital actual.

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Alunos debateram o tema na Aula Magna da Utad Paulo Pimenta

“O mundo digital, entre o excesso de informação, a desinformação e a banalização da informação”. Foi este o mote que marcou o segundo debate da terceira série do Psuperior, organizado esta segunda-feira pelo PÚBLICO, na Aula Magna da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), em Vila Real.

À luz de um tema tão “actual e importante” como é a informação, palavras escolhidas pelo director do PÚBLICO, Manuel Carvalho, para introduzir a sessão que moderou, urge arranjar uma forma de combater a desinformação e as fake news nos tempos digitais que correm. Contudo, este é um desafio que não se resolve facilmente, como foram concordando os oradores ao longo das suas intervenções, devido às particularidades trazidas pelas novas tecnologias.

O painel de oradores incluiu Andréia Azevedo Soares, jornalista do PÚBLICO, Carlos Cardoso, director do jornal académico O Torgador, Fábio Ribeiro, docente de jornalismo na UTAD, e à distância, Helena Martins, responsável de Políticas Públicas da Google Portugal, empresa que foi a parceira especial desta conversa, assim como o jornalista da RTP Carlos Daniel.

"Distinguir a verdade"

Por um lado, é necessário dar às pessoas as ferramentas de que precisam para “distinguir a verdade”, sublinhou Carlos Daniel. E aqui entra a importância do papel do jornalismo enquanto um “lugar de mediação de que a sociedade não pode prescindir”. Mas, por outro lado, disse o jornalista, as próprias pessoas têm de sentir o ímpeto de procurar informação de qualidade, não podendo “prescindir de acreditar que o conhecimento é indispensável”. Porque o que está a acontecer agora, explica, é que “estamos a chegar à informação em meios mais fáceis, deixámos de olhar pela nossa janela para a Ágora e passámos a olhar para a janela do outro”.

Fábio Ribeiro reitera esta ideia de banalização da informação, referindo que “vivemos numa sociedade de intensa voragem”. Uma rapidez que está a pôr em causa o jornalismo enquanto “disciplina da verificação”, aponta, pelo facto de os jornalistas acabarem por privilegiar a rapidez em vez da qualidade. Já Carlos Daniel denunciou o mesmo, dando o exemplo dos directos com a justificação de serem situações onde o jornalista “conta uma realidade da qual muitas vezes não sabe ao certo”. Deixa ainda a pergunta: “se não conseguir mediar o tempo entre um acontecimento e o que vou dizer sobre ele, como é vou conseguir ser mediador [da informação]?”

Como forma de contrariar isto, Fábio Ribeiro focou a necessidade de haver um escrutínio rigoroso da parte dos jornalistas, procurando fontes fidedignas, e mais do que uma sempre que possível.

Enquanto voz das novas gerações no meio do painel, Carlos Cardoso falou da sua experiência enquanto director de um jornal académico, que conta com cerca de 50 colaboradores, e confessa que vê nos seus colegas esta tentação de se desvalorizar a verificação da informação em prol da imediatez. Isto porque há a tendência de seguir a “óptica do ‘tem que sair’”, como explica Carlos Cardoso. Tem vindo, por isso, a aconselhar que se façam textos “com um cunho pessoal e um maior cuidado”, mesmo que não sejam os primeiros a publicar a história.

“Tudo sobre qualquer coisa e a toda a hora”

Por trás desta imediatez, sugere Carlos Cardoso, esconde-se o excesso de informação que a Internet e as novas tecnologias trouxeram associadas, nomeadamente sendo possível agora encontrar “tudo sobre qualquer coisa e a toda a hora”. Neste sentido, Andréia Azevedo Soares salientou que se há alguns anos atrás os dois jornais que lhe eram deixados à sua porta já representavam muita informação para consumir durante o dia, agora é evidente que a situação escalou para uma outra dimensão. Fábio Ribeiro vai mais longe e compara este excesso de informação e de intervenientes que se verifica no espaço público a um “pântano”, dificultando a “validação da verdade”.

Para Andréia Azevedo Soares, esta distinção da verdade tem de envolver uma forte literacia mediática e uma leitura crítica das notícias, realçando que se deve ler e ouvir sobre outras coisas fora da “zona de conforto”. Porque a informação que consumimos nas redes, explica, tende a ir ao encontro das nossas opiniões e ideias, pelo que urge sair desta “bolha” e estimular o pensamento crítico.

Também Helena Martins, que sublinha que a Google tem tido um especial cuidado em privilegiar “a credibilidade e a relevância”, bem como a utilidade no processo da busca de informações, aponta o dedo a estes perigos dos algoritmos nas redes sociais. Como conselho aponta que se deve aproveitar a tecnologia tanto para receber como também “para questionar a veracidade da informação”.

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Paulo Pimenta

E em contexto de discussão, como se deve reagir aos comentários de pessoas que sejam vítimas de desinformação? Andréia Azevedo Soares explica que a solução passa por um “exercício de escuta”, isto é, ouvir as dúvidas do outro e contra-argumentar. Contudo, se for um caso de extremos, então “é uma perda de tempo”, conclui.

À pergunta de Manuel Carvalho sobre se os jovens continuam interessados em discutir política, uma vez que um dos objectivos do PSuperior é justamente promover o debate e o exercício da cidadania entre os mais jovens, Carlos Cardoso diz acreditar que sim. “A verdade é que no dia-a-dia, no café, entre as aulas, geralmente nos encontramos a falar de uma situação actual, apesar de muitos dizerem que não gostam de política”.

Texto editado por Pedro Sales Dias

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