Memórias da Ucrânia, à espera da paz

Por Kiev e com um salto a Odessa, numa viagem realizada há uns anos e que o leitor Mário Menezes agora recorda. São memórias de viajante, num altura em que a Ucrânia sofre a invasão russa. O desejo: “Que a paz volte rápido a este país”.

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Mosteiro de São Paulo das Cúpulas Douradas, Kiev Mário Menezes
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Ópera de Kiev Mário Menezes

Quis o destino que numa altura de revolução, e na iminência de uma guerra civil, eu visitasse a Ucrânia. Foi em finais de Janeiro de 2014, numa tournée de duas semanas pela Europa durante a qual comemorei os 39 anos.

Kiev era a terceira cidade da antiga URSS e hoje é um local totalmente “europeizado”. O seu povo é muitíssimo afável, grande parte fala inglês, as cadeias de fast food americano abundam, as viaturas de marcas alemãs que circulam nas ruas também e o modo de vida consumista é uma constante.

Visitar a Ucrânia em plena revolução trouxe algumas desvantagens. Algumas atracções turísticas estavam fechadas e locais de romaria centrais ocupados por manifestantes. Foi o caso da Maidan, a Praça da Independência, que na altura era o centro do mundo.

A Catedral de Santa Sofia e o Mosteiro de São Miguel das Cúpulas Douradas são os maiores símbolos da cidade. Esta é uma zona acessível de funicular, subindo a colina Volodymyrska. Daqui, a vista para o rio Dnipro tem o seu encanto – na altura, encontrava-se gelado. O funicular está integrado na rede de transportes, onde o metropolitano, o meio de transporte mais utilizado, é rei. Construído ao estilo soviético, com estações a enorme profundidade, destaca-se a Arsenalna, a mais de 100 metros abaixo do solo, sendo considerada a estação de metropolitano mais profunda do mundo. Longe da beleza das suas congéneres moscovitas, as estações não deixam de ter o seu toque “bolchevique”, podendo ser encontrados em algumas bustos de Lenine ou outros símbolos do antigo regime, como a estrela na sua decoração.

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Catedral de Santa Sofia, Kiev Mário Menezes

A Ópera de Kiev, uma das mais importantes do mundo, com historial ligado à Revolução Bolchevique, é outra atracção imperdível. Ali foi assassinado Piotr Stolípin, presidente do Conselho de Ministros do reinado do último czar Nicolau II, conforme nos relata a série da Netflix Os Últimos Czares.

Embora não seja um grande conhecedor desse tipo de espectáculos, não perdi a oportunidade de ver ao vivo um espectáculo de ballet (O Lago dos Cisnes) e uma ópera (Baile de Máscaras). Os preços eram ridiculamente baixos para os nossos padrões.

O Museu Nacional de Tchernobil, local obrigatório. Uma homenagem a tamanha tragédia, que recentemente nos foi contada pela HBO na série Chernobyl. A visita é acompanhada por audioguia e explica como tudo aconteceu. Podemos ver inúmeros objectos provenientes daquelas localidades e o modelo de uma central nuclear, o mesmo que foi utilizado nas filmagens da série. O engenheiro projectista daquela central afirmara, antes da tragédia, que a mesma era de um nível de modernidade, o supra-sumo da tecnologia, e com uma segurança absoluta e que a colocaria sem problemas em funcionamento na Praça Vermelha em Moscovo! [A central foi ocupada nos finais de Fevereiro pelo exército russo durante a invasão]

A visita ao estádio Olímpico de Kiev, que recebeu o torneio de futebol dos Jogos Olímpicos de 1980, não poderia faltar. A final da Champions League de 2018 e a do Euro 2012 também ali foram jogadas. Esta é também a casa do Dínamo de Kiev, onde na altura da minha visita jogava o português Miguel Veloso. Este é um estádio de futebol que muito engrandece o meu palmarés nestas atracções turísticas. Vi os balneários, o túnel de acesso e sentei-me nas bancadas e no banco de suplentes. Na visita ao museu podemos ver referências a Valeriy Lobanovskiy, grande figura do futebol ucraniano, que era a base da selecção da URSS, altos, encorpados, temíveis e frios jogadores de futebol.

O Dínamo de Kiev foi uma equipa que já reinou na Europa e Oleg Blokhin é outra grande estrela ali presente. Também a maior estrela do futebol ucraniano dos tempos recentes, Andriy Shevchenko, que já se dedicou à política, está ali presente. Se procurarmos nas fotos ainda encontramos antigas estrelas como Chanov, Bezsonov, Baltacha, Kuznetsov, Demyanenko, Yakovenko, Zavarov, Blokhin ou Belanov. Até mesmo Sergey Yuran, que brilhou em Portugal nos anos de 1990, tanto no relvado como no calor da noite nos bares da Praça da Alegria. Yuran foi um dos primeiros jogadores da URSS a jogar futebol no estrangeiro.

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Escadaria de Potemkine, Odessa Mário Menezes
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Ópera de Odessa Mário Menezes

Dias depois estava em Odessa, na Escadaria de Potemkin, que é o local mais emblemático da cidade, e que ficou famosa pelo filme Couraçado Potemkin, do longínquo ano de 1925. Lá em baixo fica o mar Negro. Esta escadaria aparenta ser bem maior do que é na realidade é: uma mera ilusão de óptica, devido ao facto de os degraus serem cada vez mais largos, à medida que descemos, medindo 12,5 metros lá em cima e 21,5 metros lá em baixo. De lá de baixo não se conseguem ver os passadiços e lá de cima não se conseguem ver os degraus.

E ali me despedi da Ucrânia. Um país que nunca pensei tão cedo visitar e que transcendeu as minhas expectativas. Assim recordo as minhas férias na Ucrânia, desejando que a paz volte rápido a este país!

Mário Menezes

Autor de alguns textos em www.amantesdeviagens.com

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