Transportadoras preparam-se para paralisar 300 camiões a partir de segunda-feira
Este será um protesto organizado por uma plataforma que é pouco representativa do sector do transporte de mercadorias. Ainda assim, o evento reflecte o descontentamento das empresas com as medidas já anunciadas pelo Governo para mitigar o aumento dos preços dos combustíveis.
Um grupo de empresários do sector do transporte de mercadorias decidiu avançar com uma paralisação da sua frota a partir desta segunda-feira e durante tempo indeterminado, num total de cerca de 300 camiões, em protesto contra o aumento do preço dos combustíveis. O objectivo é que o Governo implemente novas medidas de mitigação deste aumento, uma vez que, consideram, as medidas já apresentadas têm um impacto irrelevante para as empresas.
A decisão foi anunciada por Paulo Paiva, um dos empresários envolvidos e porta-voz da chamada Plataforma Sobrevivência do Sector dos Transportes. Mais de 200 empresários ligados a esta plataforma reuniram-se este domingo em Castanheira do Ribatejo, a fim de delinear um plano de medidas que será apresentado ao Governo. Importa notar que esta plataforma não está ligada a qualquer associação sectorial, nomeadamente a Associação Nacional de Transportadores Públicos Rodoviários de Mercadorias (ANTRAM), a mais representativa do sector, com cerca de dois mil associados.
Ainda assim, as decisões agora tomadas por esta plataforma estão em linha com os alertas que já tinham sido deixados pela ANTRAM este fim-de-semana. “As empresas precisam, obrigatoriamente, de liquidez imediata, porque estão a atravessar um momento muitíssimo difícil. As medidas de que precisam passam pela suspensão do ISP [Imposto sobre os Produtos Petrolíferos], ainda que seja por um tempo provisório, a passagem dos veículos de classe 4 para classe 2 nas auto-estradas e o desconto directo do gasóleo profissional no fornecedor, para que a empresa não tenha de adiantar esse valor. Estas são as medidas que nós, plataforma, pretendemos para que esta paralisação seja levantada”, detalhou Paulo Paiva, em declarações transmitidas pela SIC Notícias.
Para forçar a implementação destas soluções, acrescentou, a plataforma vai avançar com uma paralisação a partir de segunda-feira, durante a parte da tarde, na zona Centro do país, “em local ainda a designar”. O protesto deverá abranger entre 300 e 320 camiões, esclareceu Paulo Paiva.
A justificar esta decisão está o facto de estes empresários considerarem que as medidas de mitigação do preço dos combustíveis já apresentadas pelo Governo são, na verdade, “paliativas”, com efeito apenas sobre as famílias. Em causa está, por exemplo, o corte de 2,4 cêntimos por litro no ISP do gasóleo e de 1,7 cêntimos no da gasolina, que irá entrar em vigor a partir de segunda-feira. “Quando estamos a falar de uma componente que já representa 40% do custo de uma empresa de transportes, como é o caso do combustível, todas as medidas que foram anunciadas pelo Governo não têm qualquer impacto”, frisou o porta-voz da plataforma.
É essa, também, a posição já manifestada pela ANTRAM. Em entrevista ao Dinheiro Vivo e à TSF publicada este fim-de-semana, André Matias de Almeida, porta-voz desta associação, admitiu que não ficaria surpreendido “que algumas empresas, de forma voluntária e por sua iniciativa, tomassem o caminho de medidas de protesto, que redundariam sempre na interrupção de bens”.
Já este domingo, em entrevista à CNN Portugal, o mesmo responsável sublinhou que “nenhuma das medidas que o Governo aprovou até hoje tem impacto nestas empresas”. Sem descartar uma paralisação a nível nacional, André Matias de Almeida ressalvou que “a ANTRAM e estas empresas têm bem consciência daquilo que é o seu poder do ponto de vista da paragem do país de uma forma muito rápida e repentina, mas é também uma associação responsável e compreende o momento que o país e o mundo atravessam”.