Governo diz que, à data, não antevê “a possibilidade de escassez de alimentos”

Declaração surge na sequência de notícias que dão conta da possibilidade de escassez ou racionamento de alimentos e de aumento acentuado nos preços.

Foto
Guerra na Ucrânia e sansões à Rússia estão a agravar preços dos alimentos Miguel Manso

O Ministério da Agricultura disse esta sexta-feira que “não há, à data, qualquer motivo que faça antever a possibilidade de escassez de alimentos”, garantindo que está a “realizar a monitorização e acompanhamento permanente relativamente ao abastecimento alimentar nacional”. O esclarecimento surge na sequência de notícias que dão conta da possibilidade de escassez ou racionamento de alimentos e de aumento acentuados nos preços de produtos alimentares.

O Ministério da Agricultura admite, no entanto, que relativamente aos preços dos produtos alimentares, “verifica-se uma tendência de aumento em toda a União Europeia, devido aos elevados custos das matérias-primas, fertilizantes e energia”, tendência que “poderá ser agravada pelo actual conflito militar entre a Rússia e a Ucrânia”.

Esta sexta-feira o preço do milho continuou a subir, bem como outros bens alimentares, atingindo máximos históricos.

Na apresentação dos resultados anuais, esta quinta-feira, o presidente da Jerónimo Martins, dona do Pingo Doce, manifestou preocupação com o momento actual: “Sei que na parte de tudo o que é commodities [neste caso matérias-primas agrícolas transaccionáveis nos mercados internacionais], a inflação é muito superior a tudo o que se está a dizer neste momento no mercado - quando se pensa que o mercado tem uma inflação de 10%, quando se olha para os cereais tem 40% a 50% e o impacto todo que tem na cadeia alimentar depois é muito grande”, disse.

Em declarações ao Expresso, o presidente da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP), Eduardo Oliveira e Sousa, referiu que se está “numa situação de emergência alimentar” como não se lembro de se ter vivido, admitindo que “além de um aumento de preços, haverá carência de produtos, o que leva à especulação, que, por sua vez, leva a um novo aumento (…)”, admitindo ainda que “o stock de alguns produtos, como a farinha para massas, é tão reduzido que daqui a um ou dois meses podemos ter de fazer racionamentos como aconteceu nos anos 70”.

Em face da situação actual, o Ministério da Agricultura diz estar, “em conjunto com as outras áreas governativas, a realizar a monitorização e acompanhamento permanente relativamente ao abastecimento alimentar nacional”.

O Grupo de Acompanhamento e Avaliação das Condições de Abastecimento de Bens nos Sectores Agro-alimentar e do Retalho em Virtude das Dinâmicas de Mercado “reuniu-se no passado dia 28 de Fevereiro, não tendo sido reportados quaisquer riscos de ruptura no abastecimento”, avança o Ministério. Este grupo, onde estão representados os sectores produtivos, industriais e de distribuição, entre outros, volta a analisar a situação no próximo dia 21 de Março, realizando-se outras reuniões de trabalho na próxima semana.

De acordo com a fonte governamental, Portugal importa da Ucrânia, principalmente, cereais para alimentação animal, “existindo para estas matérias-primas outras origens alternativas (América do Sul e América do Norte), com as quais os operadores têm já contacto”, e estão e “em curso operações e contactos com novos fornecedores, como é o caso da África do Sul”.

Os cereais destinados à alimentação humana, como é o caso dos trigos panificáveis, “têm como principal origem de importações França, estando este circuito estável e consolidado”, adianta o Ministério, que acrescenta ainda, no que respeita às gorduras alimentares, que “o abastecimento tem sido assegurado, sendo de sublinhar as disponibilidades nacionais de azeite, cuja campanha actual registou um recorde de produção”.

Já aos restantes produtos alimentares, o Ministério da Agricultura sublinha que “não se verifica pressão no que diz respeito à sua disponibilidade, quer através da produção nacional, quer no quadro do mercado único europeu”, adiantando que tanto a nível nacional como europeu, “estão já em funcionamento grupos de monitorização da situação de abastecimento alimentar, entre os Estados-membros e as associações representativas da produção, indústria e comercialização, de modo a avaliar e solucionar eventuais constrangimentos nas cadeias de abastecimento”. Com Lusa

Sugerir correcção
Ler 8 comentários