EUA temem que a Rússia esteja a preparar-se para usar armas químicas na Ucrânia
Casa Branca diz que as denúncias “risíveis” e “falsas” do Kremlin sobre o apoio norte-americano a um programa de armas biológicas na Ucrânia pretendem “montar o palco” para as tropas russas recorrerem a esse tipo de armamento. “É um padrão evidente”, acusa Washington.
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O Governo dos Estados Unidos admitiu a possibilidade de o Exército russo vir a usar armamento químico na guerra com a Ucrânia e acusou o Kremlin de estar a “montar o palco” para esse cenário, recorrendo àquilo a que os norte-americanos descrevem como “propaganda russa clássica”, que já se viu na guerra na Síria.
Em causa está a narrativa promovida nos últimos dias por Moscovo – e apoiada, segundo a Casa Branca, por Pequim – de que os EUA teriam apoiado e financiado laboratórios ucranianos dedicados ao desenvolvimento de armas biológicas.
Now that Russia has made these false claims, and China has seemingly endorsed this propaganda, we should all be on the lookout for Russia to possibly use chemical or biological weapons in Ukraine, or to create a false flag operation using them. It’s a clear pattern.
— Jen Psaki (@PressSec) March 9, 2022
A Casa Branca rotulou estas denúncias de “falsas”, “risíveis” e “teorias da conspiração”, dizendo que, para além de pretenderem “tentar justificar um ataque premeditado, não provocado e injustificável à Ucrânia”, correspondem a um “padrão evidente” das autoridades russas para recorrerem, elas próprias, a armas químicas.
“Agora que a Rússia fez estas denúncias falsas – e que, aparentemente, a China apoia esta propaganda – temos de estar atentos à possível utilização de armas químicas e biológicas pela Rússia, na Ucrânia, ou à criação de uma falsa operação clandestina para as usar”, alertou Jen Psaki, assessora de imprensa da Casa Branca, numa série de mensagens publicadas no Twitter, na quarta-feira à noite.
“É o tipo de operação de desinformação dos russos que temos vindo a assistir, repetidamente, ao longo dos anos, na Ucrânia e noutros países, mas que tem sido desmascarada”, acusou.
Antes, Maria Zakharova, porta-voz do Kremlin, tinha revelado que a Federação Russa tem na sua posse “documentos” que confirmam que o Ministério da Saúde da Ucrânia mandou destruir amostras de antraz, de cólera, de peste e de outros agentes patogénicos antes do início da “operação militar especial” da Rússia no país.
Segundo Moscovo, os documentos, não divulgados, foram apreendidos durante a invasão, e mostram uma “tentativa de emergência de apagar provas de programas militares biológicos” financiados pelos EUA.
O Ministério da Defesa russo deu ainda conta de uma operação de “provocação”, recorrendo a armas químicas, que está a ser preparada por “nacionalistas ucranianos” na cidade de Kharkiv.
Citado pela Reuters, um representante do Presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, “negou firmemente todas as acusações” russas.
“É a Rússia que tem um histórico, antigo e bem documento, de utilização de armas químicas, incluindo tentativas de assassínio e envenenamento dos inimigos políticos de [Vladimir] Putin, como Alexei Navalny”, denunciou Jen Psaki.
“É a Rússia que continua a apoiar o regime de Assad, na Síria, que usou repetidamente armas químicas. É a Rússia que mantém, há muito tempo, um programa de armas biológicas, em violação do direito internacional”, insistiu a porta-voz de Joe Biden.
Em Abril de 2020, a Organização para a Proibição de Armas Químicas (OPAQ) atribuiu ao Governo sírio a responsabilidade pelo uso de gás sarin e bombas de cloro na guerra civil da Síria. A Federação Russa, aliada de Assad, e peça fundamental na reconquista militar de grande parte do território que as forças do Presidente Bashar al-Assad tinham perdido, rejeitou, no entanto, as acusações a OPAQ.
Tal como também negou ter participado ou apoiado as operações de envenenamento do opositor político Navalny, na Sibéria, e do antigo espião Serguei Skripal, na localidade inglesa de Salisbury, com o agente nervoso Novichok – uma arma química altamente tóxica, fabricada nas décadas de 1970 e 1980 na União Soviética.